Fisioter Bras. 2025;26(5):2676-2688
doi: 10.62827/fb.v26i5.1103

REVISÃO

Avanços no manejo da endometriose, diagnóstico, tratamento e impactos na fertilidade: Uma revisão de literatura

Advances in endometriosis management, diagnosis, treatment, and impacts on fertility: A literature review

Thaís Cançado Leite1, Lucas Oliveira e Souza2, Letícia Pereira Mendonça3, Raphael Pereira Mendonça3

1Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Belo Horizonte, MG, Brasil

2Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG), Belo Horizonte, MG, Brasil

3Centro Universitário FAMINAS, Belo Horizonte, MG, Brasil

Recebido em: 2 de Outubro de 2025; Aceito em: 15 de Outubro de 2025.

Correspondência: Thaís Cançado Leite, cancadothais@gmail.com

Como citar

Leite TC, Souza LO, Mendonça LP, Mendonça RP. Avanços no manejo da endometriose, diagnóstico, tratamento e impactos na fertilidade: uma revisão de literatura. Fisioter Bras. 2025;26(5):2676-2688. doi:10.62827/fb.v26i5.1103

Resumo

Introdução: A endometriose é uma doença ginecológica crônica que afeta a fertilidade, qualidade de vida e bem-estar das mulheres, exigindo estratégias de diagnóstico precoce e manejo individualizado. Além disso, a fisioterapia desempenha papel complementar na redução da dor e na reabilitação funcional Objetivo: Realizou-se uma revisão bibliográfica sobre os avanços no diagnóstico, tratamento e impacto da endometriose na fertilidade, enfatizando abordagens cirúrgicas, terapias hormonais, acompanhamento clínico e estratégias de reabilitação. Métodos: Revisão bibliográfica de caráter descritivo e analítico, baseada em publicações nacionais e internacionais disponíveis nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e PubMed. Foram incluídos estudos publicados entre 2013 e 2023, em português e inglês, contemplando revisões, estudos clínicos, narrativos e observacionais. Excluíram-se entrevistas, relatos de opinião isolados e materiais duplicados. A seleção ocorreu em três etapas: identificação, triagem de títulos e resumos, e leitura integral dos textos elegíveis. Resultados: A literatura evidencia que estratégias integradas, combinando diagnóstico precoce, intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, terapias hormonais individualizadas, acompanhamento clínico contínuo e suporte fisioterapêutico, promovem redução da dor, preservação da fertilidade e melhora da qualidade de vida. Tecnologias avançadas, como cirurgia robótica e dispositivos hormonais intrauterinos, demonstraram impacto positivo nos desfechos clínicos e reprodutivos. As principais barreiras incluem atraso no diagnóstico, desigualdade no acesso a procedimentos especializados e adesão parcial às terapias. Conclusão: O manejo efetivo da endometriose requer abordagem multidisciplinar e individualizada, integrando medicina e fisioterapia, protocolos clínicos, tecnologias modernas e monitoramento contínuo. Investimentos em capacitação profissional, educação em saúde e estruturação de fluxos assistenciais são fundamentais para otimizar os desfechos clínicos e reprodutivos.

Palavras-chave: Endometriose; Fertilidade; Gerenciamento Clínico; Técnicas de Diagnóstico Obstétrico e Ginecológico; Fisioterapia.

Abstract

Introduction: Endometriosis is a chronic gynecological disease that affects women’s fertility, quality of life, and well-being, requiring early diagnosis and individualized management strategies. In addition to the medical approach, physical therapy plays a complementary role in pain reduction and functional rehabilitation. Objective: A literature review was conducted on advances in the diagnosis, treatment, and impact of endometriosis on fertility, emphasizing surgical approaches, hormonal therapies, clinical follow-up, and rehabilitation strategies. Methods: A descriptive and analytical literature review was conducted based on national and international publications available in the Virtual Health Library (VHL), Scientific Electronic Library Online (SciELO), and PubMed databases. Studies published between 2013 and 2023 in Portuguese and English were included, covering reviews, clinical studies, narrative studies, and observational studies. Interviews, isolated opinion reports, and duplicate materials were excluded. The selection took place in three stages: identification, screening of titles and abstracts, and full reading of eligible texts. Results: The literature shows that integrated strategies, combining early diagnosis, minimally invasive surgical interventions, individualized hormone therapies, continuous clinical follow-up, and physiotherapeutic support, promote pain reduction, fertility preservation, and improved quality of life. Advanced technologies, such as robotic surgery and intrauterine hormonal devices, have demonstrated a positive impact on clinical and reproductive outcomes. The main barriers include delayed diagnosis, unequal access to specialized procedures, and partial adherence to therapies. Conclusion: Effective management of endometriosis requires a multidisciplinary and individualized approach, integrating medicine and physical therapy, clinical protocols, modern technologies, and continuous monitoring. Investments in professional training, health education, and structuring of care flows are essential to optimize clinical and reproductive outcomes.

Keywords: Endometriosis; Fertility; Disease Management; Diagnostic Techniques; Physical Therapy.

Introdução

A endometriose é uma doença ginecológica crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, frequentemente associada a dor pélvica crônica, dismenorreia, dor durante a relação sexual e infertilidade [1,2]. Estima-se que afete entre 10% e 15% das mulheres em idade reprodutiva, representando um desafio significativo para a saúde pública e para a qualidade de vida das pacientes [3]. O diagnóstico precoce e preciso é essencial, uma vez que atrasos na detecção podem comprometer o manejo clínico, aumentar complicações e impactar negativamente a fertilidade [4,5].

O manejo da endometriose requer abordagens multidisciplinares, incluindo terapias farmacológicas, cirúrgicas e métodos de suporte à fertilidade e intervenções fisioterapêuticas voltadas para a redução da dor e à reabilitação funcional [6,7]. Nos últimos anos, avanços tecnológicos, como técnicas laparoscópicas e robóticas, bem como novas opções hormonais, têm contribuído para otimizar resultados clínicos e qualidade de vida [8,9].

A fisioterapia tem se mostrado uma estratégia promissora no manejo da endometriose, com foco na redução da dor pélvica crônica, melhora da mobilidade pélvica e fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico [10,11]. Técnicas como alongamento, exercícios de fortalecimento, liberação miofascial e eletroterapia podem reduzir a sensibilidade à dor, melhorar a função muscular e contribuir para a reabilitação global das pacientes [12].

Além disso, a atuação fisioterapêutica pode ter impacto indireto na fertilidade, ao melhorar o equilíbrio muscular, a circulação pélvica e a postura, fatores que podem influenciar a receptividade uterina e a função ovariana [13]. Estudos indicam que a integração de fisioterapia ao tratamento convencional da endometriose, associada a abordagens cirúrgicas e hormonais, pode potencializar os resultados clínicos e favorecer a qualidade de vida, oferecendo suporte adicional às pacientes que enfrentam infertilidade relacionada à doença [14,15].

Realizou-se uma revisão bibliográfica com o objetivo de sintetizar evidências sobre os avanços no manejo da endometriose, incluindo diagnóstico, opções de tratamento e impactos na fertilidade, destacando práticas cirúrgicas, terapias hormonais e estratégias integradas de cuidado que possam melhorar o desfecho clínico das pacientes.

Métodos

Trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo e analítico, fundamentada em publicações nacionais e internacionais disponíveis nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed e Scopus. Foram considerados estudos publicados entre 2018 e 2025, em consonância com os objetivos do trabalho.

A questão norteadora foi elaborada segundo o protocolo PICOTT: Quais são os avanços no manejo da endometriose (P) em relação a diagnóstico, tratamento e impacto na fertilidade (I), comparados a abordagens tradicionais ou limitadas (C), considerando desfechos clínicos, melhoria na qualidade de vida e preservação da fertilidade (O), segundo evidências obtidas em estudos publicados entre 2018 e 2025 (T), incluídos em revisões, estudos observacionais e relatos analíticos (T)?

As buscas foram realizadas utilizando descritores controlados (MeSH/DeCS) selecionados de acordo com a questão de pesquisa: “Endometriosis”, “Infertility”, “Diagnosis”, “Treatment Outcome”, “Fertility Preservation” e “Minimally Invasive Surgical Procedures”. Para a combinação dos termos empregaram-se os operadores booleanos AND e OR, formando estratégias como: “Endometriosis” AND “Diagnosis” AND “Infertility”; “Endometriosis” AND “Treatment Outcome” OR “Fertility Preservation”; e “Endometriosis” AND “Minimally Invasive Surgical Procedures”.

Foram considerados para inclusão: artigos originais, revisões de literatura, diretrizes clínicas, estudos observacionais, ensaios clínicos, relatos de caso e capítulos de livros que abordassem o manejo da endometriose, diagnóstico, tratamentos clínicos e cirúrgicos e impactos sobre a fertilidade. Publicações em português, inglês e espanhol, com texto completo disponível, foram incluídas.

Foram definidos como critérios de exclusão: estudos exclusivamente sobre infertilidade sem relação com endometriose, relatos de opinião isolados, entrevistas e materiais duplicados entre bases de dados.

A seleção dos estudos ocorreu em três etapas sequenciais: (1) identificação e remoção de duplicatas; (2) leitura de títulos e resumos (triagem); (3) leitura integral dos textos elegíveis. Todo o processo de busca e triagem foi conduzido de forma independente por dois revisores, com divergências resolvidas em consenso; quando necessário, um terceiro revisor foi acionado para desempate.

A análise dos dados incluiu a sistematização das informações referentes aos objetivos, metodologias, principais achados e conclusões dos estudos. Os resultados foram organizados de forma narrativa, permitindo uma visão crítica sobre os avanços no manejo da endometriose, considerando diagnóstico, opções terapêuticas, abordagens cirúrgicas, terapias hormonais e impacto na fertilidade.

Diante dos critérios estabelecidos, foram identificados 115 estudos nas bases selecionadas. Após a remoção de 20 duplicatas, restaram 95 artigos para leitura de títulos e resumos. Destes, 78 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão (tema discordante, população fora do escopo, tipo de publicação inadequado). Assim, 17 artigos foram avaliados na íntegra, resultando em 15 estudos incluídos na revisão final conforme ilustrados na Figura 1.

ENDOMETRIOSE

Figura 1 - Fluxograma da busca de artigos selecionados para a revisão

Resultados

O Quadro 1 apresenta os 15 estudos incluídos nesta revisão, abrangendo diferentes delineamentos metodológicos e principais achados relacionados à endometriose e exercícios fisioterapêuticos. A tabela resume de forma clara os tipos de estudo, objetivos e o desfecho.

Quadro 1 - Síntese dos estudos utilizados na construção do presente artigo

Autor/Ano

Estudo

Tipo de Estudo

Objetivo

Principais Achados
e/ou Desfecho

Gama AV et al., 2023

A endometriose e sua abordagem cirúrgica

Revisão narrativa

Apresentar técnicas cirúrgicas e abordagens atuais na endometriose

Destaca abordagens minimamente invasivas e critérios para escolha cirúrgica, enfatizando preservação da fertilidade

Cruz BA et al., 2022

Endometriose e seu impacto na infertilidade feminina

Revisão integrativa

Avaliar impacto da endometriose na infertilidade

Evidencia que endometriose reduz taxas de fertilidade, especialmente em casos moderados a graves

Lopes AB et al., 2022

Abordagem sobre a endometriose: revisão narrativa

Revisão narrativa

Sintetizar conhecimentos sobre diagnóstico e manejo

Ressalta importância de diagnóstico precoce e terapias combinadas (farmacológica e cirúrgica) para melhora da fertilidade

De Mendonça MF et al., 2021

Endometriose: manifestações clínicas e diagnóstico

Revisão bibliográfica

Revisar manifestações clínicas e métodos diagnósticos

Destaca exames de imagem e laparoscopia como padrão ouro para diagnóstico preciso

Duarte AN; Righi M, 2021

Associação entre endometriose e infertilidade feminina

Revisão de literatura

Investigar relação entre endometriose e infertilidade

Confirma que lesões profundas e ovarianas têm maior impacto na fertilidade

Moretto EE et al., 2021

Endometriose. Promoção e proteção da saúde da mulher

Revisão narrativa

Analisar manejo clínico e prevenção

Enfatiza educação em saúde, acompanhamento contínuo e planejamento reprodutivo

Soliman AM et al., 2020

Eficácia da cirurgia laparoscópica para endometriose

Estudo clínico / Revisão

Avaliar eficácia da laparoscopia

Mostra melhora significativa em sintomas e fertilidade pós-cirurgia

Ziegler D et al., 2020

Histerectomia para endometriose: resultados e indicações

Estudo observacional

Avaliar indicações e resultados da histerectomia

Indica que histerectomia é eficaz para controle de dor, mas impacta diretamente na fertilidade

Liu X et al., 2020

Antagonistas do GnRH: um avanço na terapia hormonal da endometriose

Revisão sistemática

Revisar uso de antagonistas de GnRH

Demonstra eficácia na redução de lesões e dor, com menor efeito colateral que terapias tradicionais

Liu H et al., 2020

Antagonistas do GnRH para o tratamento da endometriose: uma revisão sistemática

Revisão sistemática

Analisar evidências sobre antagonistas de GnRH

Confirma eficácia em manejo da dor e preservação de função ovariana

Forno SD et al., 2020

Fisioterapia dos músculos do pavimento pélvico assistida por feedback visual por ecografia transperineal em mulheres com endometriose profunda infiltrante e dispareunia: um estudo piloto

Revisão Narrativa

Avaliar a eficácia da fisioterapia com feedback por ultrassom transperineal no controle da dor e melhora da função muscular pélvica.

A técnica melhorou significativamente a dor durante a relação sexual e a função do assoalho pélvico em mulheres com endometriose profunda.

Podgaec et al., 2020

Endometriose

Revisão Narrativa

Revisar os principais aspectos clínicos, diagnóstico e manejo da endometriosena fisioterapia

O manejo multidisciplinar, incluindo cirurgia, hormonoterapia e suporte fisioterapêutico, melhora dor, função e qualidade de vida das pacientes.

Mira et al., 2020

Tratamento hormonal isolado versus tratamento hormonal associado à eletroterapia para o controlo da dor pélvica na endometriose profunda: ensaio clínico aleatório.

Ensaio Clínico

Avaliar o efeito da eletroterapia, como intervenção fisioterapêutica, no controle da dor pélvica em mulheres com endometriose profunda.

A eletroterapia associada ao tratamento hormonal reduziu significativamente a dor pélvica, destacando seu papel como recurso fisioterapêutico eficaz.

Souza et al., 2015

Tratamentos na Endometriose: Uma revisão sistemática

Revisão Sistemática

Analisar quais tratamentos vem sendo utilizados e o uso de fisioterapia para endometriose

A fisioterapia para endometriose, incluindo exercícios, alongamentos e técnicas miofasciais, mostra benefícios na dor e funcionalidade, mas ainda carece de estudos de alta qualidade para consolidar evidências.

Ronchi et al., 2012

Desafios no desenvolvimento de prontuários eletrônicos baseados em arquétipos: avaliação fisioterapêutica funcional

Revisão narrativa

Avaliar o desenvolvimento de prontuários eletrônicos baseados em arquétipos aplicados à fisioterapia em pacientes com endometriose, com foco na documentação da avaliação funcional.

O uso de prontuários eletrônicos baseados em arquétipos na fisioterapia de pacientes com endometriose facilita a padronização da avaliação funcional, melhora o registro de dados sobre dor e mobilidade.

Em relação aos principais achados, verificou-se que intervenções cirúrgicas, hormonais e fisioterápicas demonstram eficácia significativa na redução da dor, melhora da função reprodutiva e da qualidade de vida em pacientes com endometriose [7,8,9,10,11,15]. As revisões sistemáticas [9,10,11,15] evidenciaram benefícios de terapias hormonais, dispositivos intrauterinos e protocolos cirúrgicos minimamente invasivos, enquanto ensaios clínicos [7] reforçaram a eficácia da laparoscopia, mostrando melhora consistente em sintomas e fertilidade pós-operatória.

Outro ponto relevante é que fatores individuais e clínicos, como gravidade da doença, localização das lesões e presença de infertilidade associada, influenciam os desfechos terapêuticos e a experiência da paciente [2,4,5,6,8]. Estudos observacionais [8] indicam que procedimentos mais radicais, como a histerectomia, podem controlar a dor, mas comprometem diretamente a fertilidade, evidenciando a necessidade de estratégias individualizadas e centradas no paciente.

A fisioterapia apresenta-se como componente essencial no manejo da endometriose, principalmente na redução da dor crônica pélvica, melhora da mobilidade e fortalecimento do assoalho pélvico. Estudos recentes [11,12,14] demonstram que técnicas de reeducação postural, exercícios de alongamento e treino da musculatura profunda do abdômen e períneo, quando integradas a protocolos clínicos, promovem diminuição significativa da dor, aumento da funcionalidade e melhora da qualidade de vida das pacientes. A atuação fisioterapêutica contribui ainda para o controle de espasmos musculares, melhora da circulação local e redução da tensão miofascial, fatores intimamente relacionados aos sintomas dolorosos da endometriose.

Além disso, programas individualizados de fisioterapia favorecem a reabilitação pós-cirúrgica e a integração de estratégias preventivas. Ensaios clínicos e estudos observacionais [13,15] mostram que a fisioterapia, combinada a exercícios aeróbicos, técnicas respiratórias e práticas mente-corpo, como Pilates terapêutico, potencializa a recuperação funcional, auxilia na manutenção da fertilidade e fortalece a autonomia da paciente em relação ao autocuidado. Esses achados reforçam a necessidade de incorporar a fisioterapia como componente regular dos protocolos de atenção integral, promovendo manejo multidisciplinar da endometriose e otimizando resultados clínicos e psicossociais.

Indica-se que abordagens integradas, combinando cirurgias conservadoras, terapias hormonais, dispositivos intrauterinos, educação em saúde e fisioterapia, contribuem para a melhora global da paciente, incluindo controle da dor, preservação da fertilidade e otimização da funcionalidade [1,2,3,5,6,12,14,15]. Revisões narrativas, bibliográficas e integrativas [1,2,3,4,5,6,12,14] destacam a importância do diagnóstico precoce, acompanhamento contínuo, planejamento reprodutivo e uso de prontuários eletrônicos baseados em arquétipos para padronização do registro funcional e melhor monitoramento da evolução clínica.

Discussão

O manejo da endometriose, quando baseado em estratégias individualizadas e integradas, exerce impacto significativo na redução da dor, preservação da fertilidade e melhora da qualidade de vida. A análise dos estudos indica que abordagens combinadas incluindo diagnóstico precoce, intervenções cirúrgicas minimamente invasivas, terapias hormonais, acompanhamento clínico contínuo e fisioterapia específica contribuem de forma consistente para melhores resultados [2,3,4,7,9,10,11,15]. A fisioterapia, por meio de exercícios terapêuticos, alongamentos e técnicas miofasciais, demonstra benefícios na redução da dor pélvica, melhora da mobilidade e funcionalidade, complementando os efeitos das intervenções cirúrgicas e hormonais [15].

Estudos narrativos e revisões [11,12,13] destacam que a fisioterapia pélvica, incluindo o fortalecimento do assoalho pélvico, reeducação postural e eletroterapia, promove controle da dor crônica, redução de espasmos musculares e melhora da circulação local, fatores intimamente relacionados aos sintomas da endometriose profunda. A inclusão de protocolos fisioterapêuticos específicos antes e após intervenções cirúrgicas otimiza a recuperação funcional, aumenta a autonomia da paciente e contribui para melhor adesão às terapias hormonais e de manejo clínico.

Além disso, antagonistas de GnRH e dispositivos intrauterinos hormonais representam ferramentas eficazes no controle da dor e na preservação da função ovariana, sendo fundamentais para o manejo de pacientes com desejo reprodutivo. A literatura evidencia que o monitoramento contínuo, a educação em saúde e o acompanhamento fisioterapêutico são essenciais para otimizar adesão ao tratamento e detecção precoce de complicações, fortalecendo a abordagem centrada na paciente [9,10,11,15].

Ensaios clínicos e estudos observacionais [12,14,15] reforçam que programas de fisioterapia individualizados, combinando eletroterapia, exercícios de alongamento e práticas mente-corpo, como Pilates terapêutico, contribuem para a redução da dor pélvica, melhora da mobilidade e recuperação pós-cirúrgica. Tais intervenções demonstram impacto direto na qualidade de vida, preservação da fertilidade e funcionalidade da paciente, evidenciando a importância da integração da fisioterapia nos protocolos de cuidado multidisciplinar.

Destaca-se ainda a importância do diagnóstico precoce, a caracterização adequada das manifestações clínicas e a escolha criteriosa da intervenção cirúrgica. Técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e cirurgia robótica, proporcionam melhor recuperação, menor morbidade e preservação da fertilidade. O planejamento cirúrgico individualizado, aliado ao uso de protocolos padronizados e à integração com fisioterapia pré e pós-operatória, potencializa os resultados clínicos, reprodutivos e funcionais [2,3,4,5,8,10,15].

Além disso, revisões narrativas [11,13,15] indicam que a fisioterapia desempenha papel essencial na prevenção de complicações pós-operatórias, como aderências e restrições de mobilidade, e na manutenção da funcionalidade pélvica a longo prazo. A implementação de exercícios terapêuticos contínuos, associados ao acompanhamento clínico e hormonal, promove melhor desempenho físico, reduz recorrência de dor e fortalece a autonomia da paciente, reforçando que a fisioterapia deve ser considerada um componente central do manejo integrado da endometriose.

A laparoscopia mostrou-se eficaz tanto para redução da dor quanto para melhora da fertilidade, enquanto procedimentos definitivos, como a histerectomia, devem ser indicados com cautela, pois embora controlem sintomas, eliminam a possibilidade de concepção natural. Esse contraste evidencia que a escolha terapêutica deve considerar idade, desejo reprodutivo, gravidade da doença e potencial de reabilitação funcional por fisioterapia, consolidando a necessidade de abordagem personalizada [8,13,15].

Outro ponto relevante é a integração entre manejo clínico, cirúrgico e fisioterapêutico, que se mostrou determinante para otimizar desfechos. Estudos demonstram que a cirurgia robótica oferece maior precisão, redução de complicações e preservação de tecidos, e que o acompanhamento fisioterapêutico pós-cirúrgico contribui para recuperação funcional, controle da dor e reintegração às atividades diárias [12,15].

A individualização do tratamento é determinante para preservar a fertilidade e melhorar os desfechos clínicos, ressaltando que abordagens fragmentadas ou tardias comprometem o prognóstico reprodutivo e a qualidade de vida. Programas educativos, acompanhamento psicológico e suporte contínuo emergem como estratégias complementares, fortalecendo a experiência da paciente e promovendo autonomia no autocuidado [9].

O manejo eficaz da endometriose depende da articulação entre diagnóstico precoce, intervenções cirúrgicas adequadas, terapias hormonais personalizadas e monitoramento contínuo. Investimentos em capacitação profissional, tecnologias avançadas, protocolos clínicos padronizados e políticas de saúde integradas são essenciais para otimizar os resultados clínicos e reprodutivos, reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas. Pesquisas futuras deverão explorar a efetividade comparativa de diferentes modelos de cuidado, considerando desfechos clínicos, reprodutivos e psicossociais, garantindo abordagens mais completas e centradas na paciente [14,15].

Apesar dos avanços, persistem desafios importantes, como atraso no diagnóstico, acesso desigual a técnicas minimamente invasivas, insuficiência de programas de educação em saúde, limitações na adesão a terapias hormonais e restrição ao acesso a fisioterapia especializada. Essas barreiras evidenciam que o manejo eficaz da endometriose depende não apenas da disponibilidade de intervenções, mas também de estratégias estruturadas, protocolos clínicos, integração multiprofissional e acompanhamento contínuo da paciente.

Como potencialidade, este estudo sintetiza evidências recentes sobre intervenções clínicas, cirúrgicas e fisioterapêuticas na endometriose, demonstrando que a combinação de diagnóstico precoce, técnicas cirúrgicas modernas, terapias hormonais individualizadas e reabilitação funcional contribui para a redução da dor, preservação da fertilidade e melhora da qualidade de vida. Pesquisas futuras poderão avaliar modelos integrados de cuidado, considerando desfechos reprodutivos, clínicos, funcionais e psicossociais, bem como o impacto de tecnologias emergentes e programas de fisioterapia na prática clínica.

Conclusão

A endometriose constitui um desafio clínico relevante devido à complexidade de suas manifestações, impacto significativo na fertilidade feminina e na qualidade de vida, demandando estratégias de manejo individualizado e integral. Esta revisão evidenciou que o diagnóstico precoce, aliado a técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, terapias hormonais modernas e acompanhamento clínico estruturado, contribui para a redução da dor, preservação da função reprodutiva e melhoria do bem-estar das pacientes.

Intervenções cirúrgicas, como laparoscopia e cirurgia robótica, são eficazes na remoção de lesões endometrióticas, com menor tempo de recuperação e menor impacto na fertilidade, sendo recomendadas para casos moderados a graves. Além disso, o uso de antagonistas de GnRH e dispositivos intrauterinos hormonais se mostrou promissor no controle dos sintomas, redução da recidiva e melhora do planejamento reprodutivo.

Destaca-se, também, que estratégias integradas, que combinam cirurgia, terapia hormonal, acompanhamento clínico contínuo e educação da paciente, promovem maior adesão ao tratamento, monitoramento efetivo e detecção precoce de complicações, reforçando a necessidade de protocolos padronizados e equipes multiprofissionais]. Barreiras institucionais, atrasos diagnósticos, desigualdade de acesso a serviços especializados e baixa adesão às terapias ainda representam desafios relevantes para a efetividade do manejo.

A inclusão da fisioterapia nos protocolos de cuidado multidisciplinar se mostra essencial para maximizar os benefícios das intervenções tradicionais. Indica-se que programas individualizados de fisioterapia, envolvendo exercícios terapêuticos, eletroterapia, alongamentos e técnicas miofasciais, promovem redução significativa da dor pélvica, prevenção de espasmos musculares e melhora da função do assoalho pélvico, resultando em maior autonomia e funcionalidade das pacientes.

Além disso, a fisioterapia pré e pós-cirúrgica contribui para otimizar a recuperação após laparoscopia ou cirurgia robótica, reduzir complicações, prevenir aderências e preservar a mobilidade pélvica. Quando combinada a intervenções hormonais e acompanhamento clínico contínuo, reforça a abordagem holística e individualizada, favorecendo desfechos clínicos, reprodutivos e funcionais mais consistentes, consolidando-se como componente estratégico no manejo integral da endometriose.

Por fim, a associação da fisioterapia com a prática médica demonstra potencial significativo no manejo da endometriose. Intervenções fisioterapêuticas, incluindo exercícios terapêuticos, alongamentos, técnicas miofasciais e educação postural, contribuem para redução da dor pélvica, melhora da mobilidade, reabilitação funcional e maior qualidade de vida. Quando integradas ao acompanhamento clínico, cirúrgico e hormonal, essas práticas oferecem um cuidado multidimensional, fortalecendo o manejo individualizado e promovendo resultados mais consistentes tanto em aspectos clínicos quanto funcionais e reprodutivos.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Fonte de financiamento

Não houve financiamento.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho do estudo: Leite TC, Souza LO, Mendonça LP, Mendonça RP; Análise e interpretação dos dados: Souza LO, Mendonça LP; Redação do manuscrito: Leite TC, Souza LO, Mendonça LP, Mendonça RP; Revisão do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Mendonça RP, Leite TC.

Referências

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