Enferm Bras. 2025;24(3):2519-2529
doi: 10.62827/eb.v24i3.4071

REVISÃO

Atuação do enfermeiro na prevenção e tratamento da Sífilis durante o pré-natal: revisão integrativa

Jean Wohnrath1, Carolina Elizabete Alves de Sousa1

1Centro Universitário Campo Limpo Paulista (UNIFACCAMP), Campo Limpo Paulista, SP, Brasil

Recebido em: 4 de Julho de 2025; Aceito em: 16 de Julho de 2025.

Correspondência: Jean Wohnraht, jeanwenf@hotmail.com

Como citar

Wohnrath J, Sousa CEA. Atuação do enfermeiro na prevenção e tratamento da Sífilis durante o pré-natal: revisão integrativa. Enferm Bras. 2025;24(3):2519-2529. doi:10.62827/eb.v24i3.4071

Resumo

Introdução: A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), exclusiva do ser humano, curável se tratada adequadamente. É uma doença que aumenta os riscos de abortos espontâneos e óbito perinatal. Sendo a doença que apresenta maior índice de transmissão durante a gravidez. Objetivo: Descreveu-se sobre atuação do enfermeiro na prevenção e tratamento da sífilis durante o pré-natal. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizado entre fevereiro e maio de 2025, A busca bibliográfica foi realizada nas bases que compõem a Biblioteca Virtual em Saúde e na Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando os Descritores em Ciências em Saúde (DECS) “Sífilis”, “Consulta pré-natal” e “Enfermeiro”, e o termo alternativo “Gestação”. Foram incluídos artigos do período de 2019 a 2024. Utilizou-se o Microsoft Excell para a seleção das publicações. Resultados: A busca identificou 25 artigos, sendo 5 na SciELO e 20 nas bases da BVS. Após leitura, a amostra foi composta por 10 artigos. Os estudos apontam que o enfermeiro pode realizar uma série de atividades durante o pré-natal, visando a prevenção e tratamento da sífilis, sempre pautado na educação em saúde, tratamento humanizado e construção de um vínculo com a paciente e companheiro. Conclusão: Este estudo identificou ações relacionadas ao trabalho do enfermeiro na prevenção da sífilis gestacional e no tratamento da doença durante a gestação, atuando de forma integral desde o acolhimento da gestante e seu parceiro.

Palavras-chave: Sífilis; Consulta Pré-Natal; Cuidados de Enfermagem.

Abstract

Nurses’ role in prevention and treatment of syphilis during prenatal care: integrative review

Introduction: Syphilis is a sexually transmitted infection (STI) unique to humans, curable with appropriate treatment. It increases the risk of miscarriage and perinatal death and is the disease with the highest rate of transmission during pregnancy. Objective: The role of nurses in the prevention and treatment of syphilis during prenatal care was described. Methods: This integrative literature review was conducted between February and May 2025. The bibliographic search was conducted in the databases that make up the Virtual Health Library and the Scientific Electronic Library Online (SciELO), using the Health Sciences Descriptors (DECS) “Syphilis”,” “Prenatal consultation,” and “Nurse,” and the alternative term “Pregnancy”. Articles from the period 2019 to 2024 were included. Microsoft Excel was used for publication selection. Results: The search identified 25 articles, 5 in SciELO and 20 in the VHL databases. After reading, the sample consisted of 10 articles. Studies showed that nurses can perform a series of activities during prenatal care, aiming at the prevention and treatment of syphilis, always guided by health education, humane treatment, and building a bond with the patient and partner. Conclusion: This study identified actions related to the work of nurses in syphilis prevention. gestational and in the treatment of the disease during pregnancy, acting comprehensively from the moment the pregnant woman and her partner are welcomed.

Keywords: Syphilis; Prenatal Care; Nursing Care.

Resumen

El papel de las enfermeras en la prevención y tratamiento de la sífilis durante la atención prenatal: revisión integrativa

Introducción: La sífilis es una infección de transmisión sexual (ITS) exclusiva de los seres humanos, curable con el tratamiento adecuado. Aumenta el riesgo de aborto espontáneo y muerte perinatal, y es la enfermedad con mayor tasa de transmisión durante el embarazo. Objetivo: Se describió el rol del personal de enfermería en la prevención y el tratamiento de la sífilis durante la atención prenatal. Métodos: Esta revisión integrativa de la literatura se realizó entre febrero y mayo de 2025. La búsqueda bibliográfica se realizó en las bases de datos que conforman la Biblioteca Virtual en Salud y la Biblioteca Científica Electrónica en Línea (SciELO), utilizando los Descriptores en Ciencias de la Salud (DECS) “Sífilis”, “Consulta prenatal” y “Enfermera”, y el término alternativo “Embarazo”. Se incluyeron artículos del período 2019 a 2024. Se utilizó Microsoft Excel para la selección de publicaciones. Resultados: La búsqueda identificó 25 artículos, 5 en SciELO y 20 en las bases de datos de la BVS. Tras la lectura, la muestra quedó compuesta por 10 artículos. Los estudios demostraron que las enfermeras pueden realizar diversas actividades durante la atención prenatal, orientadas a la prevención y el tratamiento de la sífilis, siempre guiadas por la educación sanitaria, el trato humano y el desarrollo del vínculo con la paciente y su pareja. Conclusión: Este estudio identificó acciones relacionadas con la labor de las enfermeras en la prevención de la sífilis gestacional y en el tratamiento de la enfermedad durante el embarazo, actuando de forma integral desde el momento en que la embarazada y su pareja son recibidas.

Palabras-clave: Sífilis; Atención Prenatal; Cuidados de Enfermería.

Introdução

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), bacteriana, causada pela bactéria Treponema pallidum em forma de espiroqueta, exclusiva do ser humano e curável se tratada adequadamente. Pode causar diversos sinais e sintomas, apresenta-se em fases caracterizada por períodos de atividade e latência senão tratada a longo prazo pode levar ao acometimento sistêmico disseminado, que pode atingir órgãos vitais e levando a sequelas irreversíveis [1].

O Treponema pallidum pode se disseminar por via hematogênica, através da passagem de espiroquetas pela placenta, tal infecção pode ocorrer em qualquer momento da gestação, ela também pode ocorrer no momento da passagem pelo canal vaginal, e durante o aleitamento materno. A redução na probabilidade de transmissão está diretamente relacionada à diminuição de treponemas circulantes. A carga de treponema circulante diminui, mas não desaparece se não houver tratamento adequado, a ocorrência da transmissão vertical, também é influenciada pelo tempo em que o feto foi exposto [2,3].

A sífilis aumenta os riscos de abortos espontâneos e óbito perinatal. Sendo a doença que apresenta maior índice de transmissão durante a gravidez, é considerada um elevado problema de saúde pública, o que requer diagnóstico e tratamento adequado. A triagem pré-natal para sífilis consiste no acompanhamento e solicitação de teste rápido de triagem ou sorologia de VDRL (Veneral disease Research Laboraroty), pelo enfermeiro, na primeira consulta de pré-natal e deve ser repetido no início do terceiro trimestre [4].

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) ressalta a importância do profissional enfermeiro no manejo das IST nos serviços públicos e privados, seja na prevenção ou no tratamento. É um profissional que desempenha papel fundamental no pré-natal, aplicando seus conhecimentos científicos para prevenir infecções por meio de ações e intervenções realizadas na Unidade Básica de Saúde [5,6].

Diante da relevância da atuação do enfermeiro e da complexidade envolvida no cuidado às gestantes portadoras de sífilis, torna-se necessário reunir, por meio de uma revisão da literatura, informações atualizadas que permitam compreender os principais cuidados destinados a estas pacientes. Tal iniciativa poderá subsidiar a proposição de estratégias de educação permanente, fortalecimento da autonomia profissional e melhoria da qualidade da assistência pré-natal, contribuindo para a redução dos índices de sífilis congênita no país. Descreveu-se sobre a atuação do enfermeiro na prevenção e tratamento da sífilis durante o pré-natal.

Métodos

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre os meses de fevereiro e maio/2025, a qual foi desenvolvida em seis etapas: formulação da questão de pesquisa, busca bibliográfica, extração de dados, avaliação crítica, análise e sumarização dos estudos e síntese do conhecimento [7]. O relato do estudo foi redigido conforme orientação do checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) [8].

A questão de pesquisa foi formulada com auxílio da estratégia PICO [9], (acrônimo para P-população, I-intervenção/área de interesse, C-comparação e O-resultado/desfecho), onde a população considerada foi a gestante, a área de interesse consistiu em atendimento do enfermeiro no pré-natal, não houve comparação, e o desfecho pesquisado foi prevenção e tratamento da sífilis. Desta forma, a questão norteadora para este estudo foi: “qual a atuação do enfermeiro na prevenção e tratamento da sífilis durante o pré-natal?”

A busca bibliográfica foi realizada nas bases que compõem a Biblioteca Virtual em Saúde e na Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando os Descritores em Ciências em Saúde (DECS) “Sífilis, “Consulta pré-natal” e “Enfermeiro”, e o termo alternativo “Gestação”, associados por meio dos operadores booleanos AND ou OR.

Foram incluídos estudos publicados no período de 2019 a 2024, com acesso aberto, disponíveis em português, e excluídos os que não respondessem à questão norteadora ou que não estivessem disponíveis na íntegra. Artigos duplicados foram contabilizados somente uma vez.

Para auxiliar na extração dos dados, foi elaborado um quadro sinóptico. Os dados foram extraídos e analisados de forma descritiva com a utilização do software Microsoft Excell®. Respeitaram-se os aspectos éticos, com citação fidedigna das fontes e definições dos autores.

Resultados

A busca identificou 25 artigos, sendo 5 na SciELO e 20 nas bases da BVS. Após leitura, a amostra foi composta por 10 artigos, conforme apresentado no Quadro 1. Em relação ao ano de publicação, quatro foram de 2024, quatro de 2023 e dois de 2020.

Quadro 1 – Apresentação das características dos estudos da amostra. Franco da Rocha, São Paulo, 2025

TÍTULO

AUTORES

ANO

OBJETIVO

PERIÓDICO

1

Sífilis na gestação: relevância das informações para a educação em saúde de gestantes e seus parceiros

Corrêa AT et al, 2024 [10]

Levantar informações relevantes sobre sífilis gestacional e sífilis congênita para embasar programas de educação em saúde direcionados a gestantes e seus parceiros

Enfermagem em Foco

2

O papel vital do profissional de enfermagem no diagnóstico e rastreamento da sífilis no pré-natal

Santos JS.

2024 [11]

Ressaltar a necessidade de uma abordagem abrangente e integrada no enfrentamento da sífilis gestacional, destacando o papel fundamental do enfermeiro na atenção primária.

Revista Multidisciplinar em Saúde

3

Assistência pré-natal do enfermeiro às gestantes com sífilis

Reis EMC et al., 2024 [12]

Analisar a assistência pré-natal do enfermeiro às gestantes com diagnóstico de sífilis na atenção primária à saúde.

Revista Eletrônica de Enfermagem

4

Manejo da enfermagem na prevenção da sífilis durante a assistência do pré-natal

Silva RS et al., 2024 [13]

Analisar as condutas de enfermagem que são realizadas na prevenção da sífilis gestacional durante a assistência pré-natal.

Revista Saúde UNIFAN

5

Os desafios da enfermagem no diagnóstico e tratamento da sífilis gestacional: uma visão integrativa

Abreu DS et al., 2023 [14]

O presente artigo tem como objetivo analisar os desafios da enfermagem no diagnóstico e tratamento da sífilis gestacional

Revista Interdisciplinar

6

O pré-natal como abordagem preventiva de sífilis gestacional

Andrade ILXC et al., 2023 [15]

Discutir as evidências científicas sobre o pré-natal como instrumento na prevenção de sífilis gestacional e explanar sobre a acuidade da consulta de enfermagem na assistência pré-natal no Brasil.

Brazilian Journal of Integrative Health Sciences

7

O enfermeiro diante da consulta de pré-natal: atendimento à gestante portadora de sífilis

Silva ACV, et al., 2023 [16]

Descrever a assistência, conhecimento e prática do enfermeiro a gestante portadora de sífilis durante o acompanhamento pré-natal.

Revista Científica Saúde e Tecnologia

8

Atuação e desafios do enfermeiro no tratamento de sífilis na gestação

Rodrigues et al., 2023 [17]

Analisar a atuação e os principais desafios enfrentados pela enfermagem no tratamento da sífilis na gestação

Revista JRG de Estudos Acadêmicos

9

Papel do enfermeiro na inserção dos parceiros no pré-natal e tratamento de gestantes com sífilis

Silveira CR et al., 2020 [18].

Identificar o papel do enfermeiro na inserção do parceiro no pré-natal e no tratamento de gestantes com exames positivos para sífilis. 

Revista Eletrônica Acervo Saúde

10

Construção de fluxograma e protocolo de enfermagem para manejo da sífilis na Atenção Primária em saúde

Barimacker SV et al., 2020 [19]

Construir um fluxograma e um protocolo para manejo da sífilis em adultos na Atenção Primária à

Saúde

Ciência e Cuidado em Saúde

Fonte: dados da pesquisa, 2025

O enfermeiro pode realizar uma série de atividades durante o pré-natal, visando a prevenção e tratamento da sífilis, sempre pautado na educação em saúde, tratamento humanizado e construção de um vínculo com a paciente e companheiro (Quadro 2).

Quadro 2 – Resultados encontrados nos artigos selecionados. Franco da Rocha, São Paulo, 2025

Resultados

1

O artigo foca na educação da paciente e parceiros Formas de contágio, diagnóstico, prevenção, tratamento, complicações maternasfetais [10].

2

Realização de testes rápidos para diagnóstico precoce; Educação em saúde contínua à gestante e parceiro; Prescrição e administração da penicilina benzatina; Notificação dos casos e encaminhamento adequado; Acompanhamento sorológico (controle de títulos VDRL); O enfermeiro fortalece o vínculo com as gestantes, apoiando adesão ao tratamento e prevenindo a transmissão vertical da doença [11].

3

Consultas pré-natal; Prescrição e administração de penicilina benzatina; Uso de protocolo único de tratamento; Solicitação de exames sorológicos (VDRL); Monitoramento de titulação para avaliar resposta ao tratamento e restaurar cura clínica; Notificação compulsória; Preenchimento da ficha e envio adequado dos dados para vigilância epidemiológica, essencial para controle da doença; Encaminhamento do parceiro; Orientação e tentativas de testagem e tratamento do parceiro sexual da gestante para evitar reinfecção; Educação em saúde contínua; Orientações sobre importância da adesão ao tratamento, uso de preservativos, riscos da sífilis na gestação (como aborto, natimorto, prematuridade, manifestações congênitas) [12].

4

Solicitação de testes VDRL na primeira consulta e novamente no início do terceiro trimestre para rastreamento precoce da infecção; Aconselhamento prévio à testagem, explicando a gestante sobre a importância dos exames e os possíveis riscos da sífilis; Tratamento simultâneo da gestante e do parceiro, mesmo que o parceiro não tenha confirmação laboratorial, para evitar reinfecção; Orientação sobre práticas sexuais seguras, enfatizando o uso de preservativos durante e após o tratamento; Acompanhamento laboratorial mensal da gestante em tratamento, com testes sorológicos não treponêmicos quantitativos (VDRL) para monitorar resposta clínica; Reavaliação do tratamento se não houver queda nos títulos ou ocorrer aumento de pelo menos duas diluições no VDRL; Explicação clara do esquema terapêutico, dosagem e possíveis efeitos, utilizando linguagem acessível à gestante para aumentar adesão; Notificação compulsória de casos de sífilis; Acolhimento humanizado, escuta ativa e fortalecimento do vínculo para promover confiança e adesão ao tratamento [13].

5

Diagnóstico rápido e precoce; Administração de tratamento adequado; Acompanhamento de evolução sorológica; Notificação e registros oficiais; Orientação e educação em saúde; Envolvimento do parceiro no acompanhamento, testagem e tratamento para evitar reinfecções; Acolhimento humanizado e vínculo [14]

6

Triagem precoce; Solicitação de exames confirmatórios; Envolvimento familiar e do parceiro [15].

7

Realização da triagem precoce; Aplicação de testes rápidos (como RDT e/ou VDRL) na primeira consulta para detectar infecção o mais cedo possível; Interpretação de exames e confirmação laboratorial; Administração de tratamento imediato; Educação em saúde e acolhimento; Envolvimento e tratamento do parceiro; Encaminhamentos e notificação; Plano estratégico para prevenção da transmissão vertical [16].

8

Identificação ativa de casos; Tratamento oportuno e integral; Acompanhamento longitudinal da gestante; Monitoramento contínuo da adesão ao tratamento, avaliação da resposta terapêutica e garantia de que o esquema foi corretamente finalizado; Empoderamento da gestante; Ações educativas focadas na compreensão dos riscos da sífilis congênita, autocuidado e fortalecimento da autonomia da mulher sobre sua saúde sexual e reprodutiva; Participação ativa no cuidado do parceiro sexual; Articulação com a rede [17].

9

Estímulo à participação do parceiro; Realização da testagem; Tratamento imediato e conjunto com parceiro; Educação em saúde com foco na prevenção; Acompanhamento da adesão terapêutica; Acolhimento sem julgamento; Vínculo entre profissional e paciente; Registro e notificação dos casos [18].

10

Triagem inicial, com uso de testes rápidos (treponêmico e/ou VDRL) em usuários expostos ou vulneráveis para detecção precoce da sífilis; Confirmação diagnostico; Tratamento imediato; Monitoramento de reações; Acompanhamento sorológico; Notificação e registro; Acolhimento humanizado; Educação; Engajamento de parceiros; manter um fluxograma estruturado [19].

Fonte: dados da pesquisa, 2025.

Discussão

O enfermeiro possui importante atuação na prevenção da sífilis gestacional e no tratamento da doença durante a gestação, visando a redução de danos ao bebê. A atuação proativa da enfermagem é essencial não apenas para interromper a cadeia de transmissão da sífilis, mas também para prevenir a sífilis congênita, contribuindo diretamente para a melhoria dos indicadores de saúde materno-infantil [18].

A primeira abordagem deve focar no incentivo às consultas do pré-natal, utilizando estratégias para a adesão da paciente e do companheiro, sempre que possível [3]. Segundo dados publicados recentemente, embora a cobertura do pré-natal seja vista como quase universal, a qualidade e a adequação permanecem insatisfatórias no Brasil. As mulheres negras e as menos escolarizadas apresentaram maior probabilidade de não ter 6 consultas de pré-natal, iniciadas antes da 12ª semana de gestação. Mulheres de até 20 anos de idade, residentes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e menos escolarizadas foram menos submetidas aos exames laboratoriais e físicos preconizados. E, por último, mulheres negras e de até 20 anos de idade foram mais propensas a não receber orientações sobre o parto. [20].

Em relação à prevenção da sífilis na gestação, destaca-se a educação da gestante e do parceiro desde a primeira consulta pré-natal, reduzindo as chances de contaminação [11,13,15]. A literatura aponta que existem várias formas de realizar essa abordagem, dentre elas, a utilização de tecnologias educativas, como um estudo que analisou a experiência de gestantes em grupos de pré-natal coletivo utilizando recursos tecnológicos e concluiu que essas práticas possibilitam maior protagonismo feminino, troca de saberes e tomada de decisão autônoma, melhorando indicadores de adesão ao cuidado e empoderamento [20].

O diagnóstico precoce é de extrema importância para o rápido tratamento. Assim, o enfermeiro deve solicitar a testagem o mais breve possível, cuidado sempre concomitante à educação [11,14,16,19]. A ampliação da cobertura dos testes rápidos para sífilis na Atenção Primária à Saúde tem se mostrado uma estratégia eficaz para o aumento da detecção precoce da infecção em gestantes, fator crucial para a prevenção da sífilis congênita. Um estudo nacional que analisou dados entre 2012 e 2018 evidenciou que, para cada aumento de um teste rápido por mil nascidos vivos, houve um acréscimo médio de 0,02 casos detectados por mil nascidos vivos (p < 0,001), o que demonstra o impacto direto do acesso à testagem na identificação oportuna da doença. Os autores reforçam que a descentralização dos testes para as unidades básicas de saúde contribui para o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento, reduzindo os riscos de transmissão vertical e melhorando os indicadores de saúde materno-infantil [22].

Diante dos desafios impostos pela sífilis na gestação, destaca-se o papel essencial do enfermeiro não apenas na execução técnica das ações de prevenção, diagnóstico e tratamento, mas sobretudo na oferta de um atendimento humanizado e acolhedor. A escuta ativa, o respeito às singularidades de cada gestante e a criação de vínculos de confiança são elementos fundamentais para a adesão ao cuidado e para o enfrentamento do estigma frequentemente associado às infecções sexualmente transmissíveis. O enfermeiro, ao atuar de forma ética e sensível, contribui para o empoderamento da gestante, fortalece a educação em saúde e amplia o acesso às intervenções oportunas, impactando positivamente os desfechos maternos e neonatais. Assim, o cuidado humanizado deixa de ser um diferencial e se consolida como um compromisso ético e profissional indispensável à qualidade da atenção pré-natal [11,18].

Por fim, reforça-se a importância da notificação. A notificação compulsória da sífilis, em suas formas adquirida, gestacional e congênita, é uma responsabilidade legal atribuída aos profissionais de saúde, incluindo o enfermeiro, conforme disposto na Portaria GM/MS nº 1.061, de 18 de maio de 2020, que atualiza a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças e agravos no Brasil. No contexto da atenção pré-natal, o enfermeiro ocupa posição estratégica para identificar precocemente os casos e garantir a notificação oportuna no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), viabilizando o monitoramento epidemiológico e o planejamento de ações de vigilância e controle. Ao notificar corretamente, o enfermeiro contribui diretamente para a vigilância em saúde, o acompanhamento de casos e a prevenção da sífilis congênita, reafirmando seu compromisso com a saúde pública e a qualidade da assistência materno-infantil [23].

Visto que todo estudo possui limitações, entende-se que os critérios de elegibilidade podem ter possibilitado viés de seleção. O tempo de busca de estudos foi curto e mais bases de dados poderiam ter sido incluídas. Por fim, como a revisão integrativa não segue um protocolo tão restrito quanto revisões sistemáticas, pode haver subjetividade na análise e interpretação dos dados, o que requer cautela na aplicação dos resultados na prática clínica. Mas a revisão traz um relato sobre a ação do enfermeiro diante do desafio que é a sífilis principalmente no Sistema Único de Saúde e no Brasil.

Conclusão

As ações relacionadas ao trabalho do enfermeiro na prevenção da sífilis gestacional e no tratamento da doença durante a gestação, atuando de forma integral desde o acolhimento da gestante e seu parceiro, na realização de testagens, na orientação educativa, no controle da administração do tratamento medicamentoso e monitoramento dos casos positivos, acompanhando ao logo de toda a gestação.

A atuação do enfermeiro deve ser baseada em protocolos atualizados, na promoção da educação em saúde e em uma abordagem humanizada, que considere a vulnerabilidade social e as individualidades de cada gestante, portanto, a capacitação contínua das equipes junto à organização dos fluxos de atendimento e a busca ativa de casos, são medidas básicas para garantir a efetividade das ações de controle da sífilis.

Conflitos de Interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.

Fontes de Financiamento

Não houve financiamento.

Contribuição dos Autores

Concepção e desenho da pesquisa: Wohnraht J, Sousa CEA; Análise e Interpretação dos dados: Wohnraht J, Sousa CEA; Redação do Manuscrito: Wohnraht J; Revisão do Manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Sousa CEA.

Referências

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