REVISÃO
Desigualdades no acesso à saúde sexual e reprodutiva de migrantes e refugiadas em cenários humanitários
Luciene Rodrigues Barbosa1
1Universidade de Brasília (UNB), Brasília, DF, Brasil
Recebido em: 24 de Junho de 2025; Aceito em: 2 de Julho de 2025.
Correspondência: Luciene Rodrigues Barbosa, lucienerodriguesbarbosa@gmail.com
Como citar
Barbosa LR. Desigualdades no acesso à saúde sexual e reprodutiva de migrantes e refugiadas em cenários humanitários. Enferm Bras. 2025;24(3):2460-2475. doi:10.62827/eb.v24i3.4067
Introdução: Mulheres migrantes e refugiadas enfrentam barreiras multiescalares políticas, organizacionais e socioculturais que comprometem o acesso à saúde sexual e reprodutiva (SSR) em crises humanitárias. Objetivo: Analisou-se as condições de SSR de mulheres refugiadas em cenários de crise humanitária. Métodos: Revisão de escopo conduzida segundo Joanna Briggs Institute (JBI) e protocolo PRISMA para revisões de escopo (PRISMA-ScR). O mnemônico PCC (População /Conceito/Contexto) orientou buscas em Literatura científica América Latina e Caribe (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (Medline/Pubmed), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Scopus (Elsevier), realizadas em fevereiro-abril de 2025 e sem recorte temporal. Foram incluídos estudos desenvolvidos em África, Américas, Europa, Oriente Médio e Ásia. Vinte e quatro artigos satisfizeram os critérios de elegibilidade: 10 quantitativos observacionais, 6 ensaios controlados, 5 qualitativos e 3 de métodos mistos. Resultados: Identificaram-se barreiras macro (subfinanciamento, cobertura securitária restrita), meso (sobrecarga de serviços, ausência de intérpretes, interrupções pandêmicas) e micro (estigma, trauma, vigilância de parceiros). Estratégias de baixo custo autoteste para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) via aplicativos de saúde móvel (mHealth), vouchers obstétricos, autoajuda guiada mostraram eficácia pontual, condicionada a confidencialidade e mediação cultural. Persistem lacunas críticas em higiene menstrual, violência de gênero associada a eventos climáticos e análises custo-efetivas. Conclusão: A equidade em SSR demanda ecossistemas multiescalares que articulem financiamento anticíclico, serviços culturalmente mediadores e tecnologias seguras, com participação ativa das próprias refugiadas.
Palavras-chave: Refugiados; Infecções Sexualmente Transmissíveis; Saúde Reprodutiva; Mulheres; Saúde Sexual.
Inequalities in sexual and reproductive health access for migrant and refugee women in humanitarian contexts
Introduction: Migrant and refugee women face multiscale barriers political, organizational and sociocultural that undermine access to sexual and reproductive health (SRH) in humanitarian crises. Objective: This study analyzed the SRH conditions of refugee women in humanitarian crisis settings. Methods: A scoping review was conducted following Joanna Briggs Institute (JBI) guidance and the PRISMA-ScR protocol for scoping reviews. The PCC mnemonic (Population/Concept/Context) guided searches in Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), International Literature in Health Sciences (Medline/PubMed), CINAHL and Scopus (Elsevier), carried out in February–April 2025 without temporal limits. Studies conducted in Africa, the Americas, Europe, the Middle East and Asia were included. Twenty-four articles met eligibility criteria: 10 observational quantitative studies, 6 controlled trials, 5 qualitative studies and 3 mixed-methods studies. Results: Macro-level barriers (underfunding, restricted security coverage), meso-level barriers (service overload, lack of interpreters, pandemic interruptions) and micro-level barriers (stigma, trauma, partner surveillance) were identified. Low-cost strategies Human Immunodeficiency Virus (HIV) self-testing via mHealth apps, obstetric vouchers, guided self-help showed point efficacy, contingent on confidentiality and cultural mediation. Critical gaps persist in menstrual hygiene, climate-related gender-based violence and cost-effectiveness analyses. Conclusion: Equity in SRH demands multiscale ecosystems that integrate countercyclical funding, culturally mediating services and secure technologies, with active participation of refugees themselves.
Keywords: Refugees; Sexually Transmitted Diseases; Reproductive Health; Women; Sexual Health.
Desigualdades en acceso a salud sexual y reproductiva de migrantes y refugiadas en contextos humanitários
Introducción: Las mujeres migrantes y refugiadas enfrentan barreras multiescalares políticas, organizativas y socioculturales que comprometen el acceso a la salud sexual y reproductiva (SSR) en crisis humanitarias. Objetivo: Se analizaron las condiciones de SSR de las mujeres refugiadas en escenarios de crisis humanitarias. Métodos: Se llevó a cabo una revisión de alcance según el Joanna Briggs Institute (JBI) y el protocolo PRISMA-ScR para revisiones de alcance. El mnemónico PCC (Población/Concepto/Contexto) orientó las búsquedas en Literatura Científica de América Latina y el Caribe (LILACS), Literatura Internacional en Ciencias de la Salud (Medline/PubMed), CINAHL y Scopus (Elsevier), realizadas entre febrero y abril de 2025 sin límite temporal. Se incluyeron estudios desarrollados en África, América, Europa, Oriente Medio y Asia. Veinticuatro artículos cumplieron los criterios de elegibilidad: 10 estudios cuantitativos observacionales, 6 ensayos controlados, 5 estudios cualitativos y 3 de métodos mixtos. Resultados: Se identificaron barreras macro (subfinanciamiento, cobertura de seguridad restringida), meso (sobrecarga de servicios, ausencia de intérpretes, interrupciones pandémicas) y micro (estigma, trauma, vigilancia de la pareja). Estrategias de bajo costo —autoprueba de Virus de la Inmunodeficiencia Humana (VIH) mediante aplicaciones de salud móvil (mHealth), vales obstétricos, autoayuda guiada mostraron eficacia puntual, condicionada a la confidencialidad y a la mediación cultural. Persisten lagunas críticas en higiene menstrual, violencia de género asociada a eventos climáticos y análisis de costo-efectividad. Conclusión: La equidad en SSR exige ecosistemas multiescalares que articulen financiamiento anticíclico, servicios culturalmente mediadores y tecnologías seguras, con participación activa de las propias refugiadas.
Palabras-chave: Refugiados; Enfermedades de Transmisión Sexual; Salud Reproductiva; Mujeres; Salud Sexual.
O United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR) estimou 122,1 milhões de pessoas em deslocamento forçado no planeta, em abril de 2025, representando cerca de 1 em cada 66 habitantes; projeções indicam 139,3 milhões até dezembro do mesmo ano. Deste contingente, mais de 60 milhões são mulheres e meninas, confirmando a dimensão de gênero da crise humanitária [1-2]. Conflitos armados persistentes, violência generalizada e eventos climáticos extremos compõem o pano de fundo dessa mobilidade, intensificando riscos à saúde e à dignidade feminina.
A Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) compõe os ODS 3, 5 e 10. Apesar dos compromissos multilaterais, apenas 56% das mulheres casadas ou em união (27–49 anos) detêm autonomia decisória sobre a própria SSR, segundo o SDG Progress Report 2024 [3-4]. Concomitantemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima 260.000 mortes maternas em 2023, 92% em países de baixa e média renda, estatística agravada em contextos de deslocamento, onde barreiras ao pré-natal e à atenção obstétrica segura persistem [3].
Neste cenário, surgem barreiras multiescalares desinformação (57%), barreiras linguísticas (43%), choques culturais, custos diretos e indiretos, distâncias e longas filas limitam o uso de contraceptivos modernos e a testagem para IST/HIV, inclusive em países de alta renda [5]. Tais barreiras repercutem em mortalidade materna evitável e baixa autonomia reprodutiva.
A gestão da higiene menstrual ilustra o entrelaçamento de determinantes estruturais como a escassez crônica de insumos e infraestrutura inadequada [6]; Na Jordânia, um estudo identificou que o de 42% de pobreza menstrual e 71,5% de reutilização de insumos elevaram em 2,2 vezes a probabilidade de sintomas depressivos [7]. A Violência Baseada em Gênero (VBG) também permanece transversal, em 2024, 7,7 milhões de pessoas necessitaram de proteção específica contra violência sexual em situações de deslocamento [4].
Algumas intervenções mostram potencial de mitigação, programas de cash & voucher assistance alcançaram 76.490 mulheres em 22 países em 2024, reduzindo barreiras de custo ao acesso a SSR [4]. Todavia, avaliações dessas iniciativas são pontuais e pouco comparáveis entre diferentes cenários de crise.
Atualmente, há poucos estudos que integrem as múltiplas dimensões da SSR contracepção, cuidado obstétrico, IST/HIV, higiene menstrual e VBG em distintos tipos de crises humanitárias (guerras, desastres climáticos e colapsos econômicos).
Este estudo parte do pressuposto de que o acesso equitativo à SSR constitui direito humano fundamental [8]. Pressupõe-se que as barreiras vivenciadas por mulheres refugiadas resultem de determinantes estruturais interseccionais gênero, raça/etnia, classe socioeconômica e status migratório potencializados em contextos de crise, exigindo abordagem feminista interseccional e baseada em direitos. Analisou-se as condições de saúde sexual e reprodutiva de mulheres refugiadas em cenários de crise humanitária.
Trata-se de uma revisão de escopo, conduzida conforme o Joanna Briggs Institute Manual for Evidence Synthesis [9] e descrita à luz do checklist PRISMA-ScR [10]. A escolha desse delineamento decorre da amplitude temática e da heterogeneidade metodológica da produção científica sobre Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) de mulheres migrantes e refugiadas em cenários de crise humanitária, exigindo um mapeamento abrangente das evidências em vez de estimativas de efeito estritamente quantitativas.
A construção da pergunta foi orientada pela estratégia População–Conceito–Contexto (PCC). Consideraram-se como População mulheres migrantes, refugiadas ou deslocadas internas, com idade igual ou superior a 15 anos; como Conceito os diferentes componentes da SSR contracepção, pré-natal, parto, pós-parto, infecções sexualmente transmissíveis, violência baseada em gênero e gestão da higiene menstrual; e como Contexto os cenários de crises humanitárias desencadeadas por conflitos armados, desastres naturais ou colapsos socioeconômicos. A partir desses eixos formulou-se a questão norteadora: qual a situação da saúde sexual e reprodutiva de mulheres migrantes e refugiadas em contextos de crise humanitária?
A busca bibliográfica foi realizada entre fevereiro e abril de 2025 nas bases MEDLINE/PubMed, CINAHL, LILACS, Scopus acessadas via Portal CAPES (CAFe). Utilizaram-se descritores controlados Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), combinados com operadores booleanos.
Quadro 1 - Identificação dos estudos relevantes, Brasília – DF, 2025
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Base de dados |
Estratégia de busca completa |
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MEDLINE / PubMed |
(“Reproductive Health” OR “Maternal Health Services” OR “Sexual Health”) AND (women OR female) AND (“Refugees” OR “Emigrants and Immigrants” OR “Displaced Persons”OR migrant OR refugee) AND (humanitarian OR conflict OR disaster OR “natural disasters”) |
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CINAHL (EBSCO) |
(MH “Reproductive Health Services”) AND (“Refugees”) AND (women OR female) AND (humanitarian OR conflict OR disaster) |
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LILACS |
(“saúde reprodutiva” OR “saúde materna”) AND (mulheres OR mulher) AND (refugiado OR migrante OR “pessoas deslocadas”) AND (humanitária OR conflito OR desastre) |
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Scopus (Elsevier) |
(“reproductive health” OR “sexual health” OR “maternal health”) AND (women OR female) AND (refugee OR migrant OR “displaced person”) AND (humanitarian OR conflict OR disaster) |
Fonte: elaborado pela autora.
Foram incluídos estudos originais, publicados sem recorte temporal, nos idiomas inglês, português, espanhol ou francês. Excluíram-se revisões, protocolos, cartas, editoriais e artigos de opinião. Todos os registros foram importados para o Rayyan QCRI, onde se realizou a remoção automática de duplicatas; em seguida, procedeu-se a triagem de títulos, resumos e textos completos.
A extração de dados foi executada em formulário padronizado no Microsoft Excel registrou-se o autor, ano, país/região, tipo de crise, delineamento, componente da SSR investigado, principais achados e lacunas apontadas.
Considerando a natureza cartográfica da revisão de escopo, não se excluirão estudos em razão do risco de viés; entretanto, quando pertinente, a qualidade metodológica será descrita com os instrumentos críticos do JBI correspondentes a cada delineamento, sem influir na elegibilidade.
Inicialmente, foi construído um mapa de evidências que ilustre a distribuição geográfica dos estudos, os componentes da SSR abordados e os tipos de crise humanitária. Subsequentemente, realizou-se uma análise temática, identificando convergências, divergências e lacunas, com especial atenção às barreiras de acesso e às intervenções relatadas.
Da busca inicial de 456 referências, 359 títulos e resumos foram triados após a remoção de duplicatas; dos 46 textos avaliados na íntegra, 24 estudos satisfizeram todos os critérios de elegibilidade e compõem o corpus desta revisão. A amostra abrange publicações entre 2004 e 2024, com predominância de trabalhos posteriores a 2015, e com delineamentos quantitativos (10), qualitativos (5), mistos (3) e ensaios controlados (6).
A seguir, será apresentada uma síntese dos 24 artigos incluídos, destacando o que cada um acrescenta ao corpo de evidências sobre SSR de mulheres migrantes/refugiadas e quais lacunas continuam abertas.
Tabela 1 – Síntese das principais evidências e lacunas identificadas, Brasília – DF, 2025
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Autor / Ano |
Região / Tipo de crise* |
Barreiras de acesso identificadas** |
Intervenções reportadas (†) |
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Kunnuji et al., 2024 [11] |
Nigéria & Uganda – crise humanitária (confl.) |
Dependência econômica leva ao sexo transacional |
Propõe cash-transfer e formação profissional; requer recursos multilaterais – transferibilidade média |
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Vilca, 2024 [12] |
Itália – pandemia COVID-19 |
Medo de contágio, suspensão de consultas |
Tele-pré-natal / Hotline; facilmente replicável em emergências sanitárias |
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Logie, 2024 [13] |
Uganda – RCT edutainment HQ comic |
Falta de materiais de educação sexual atrativos |
Comic e autoteste eficaz; transferível onde há alfabetização básica |
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Logie et al., 2023 [14] |
Uganda – assentamentos (conflito) |
Estigma HIV, baixa privacidade nos postos de saúde |
mHealth autoteste HIV ↑40% adesão; aplicável a outros acampamentos com 3G |
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Okumu et al., 2022 [15] |
Uganda – adolescentes deslocados |
Negociação de preservativo prejudicada por poder desigual |
SMS “Condom-NET” escalável em qualquer área com cobertura celular |
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Zhang et al., 2021 [16] |
EUA – pandemia COVID-19 (desastre) |
Falta de proteção laboral, insegurança alimentar, barreiras linguísticas a cuidados |
Nenhuma; sugere tele-aconselhamento culturalmente adaptado |
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Scott et al., 2021 [17] |
Grécia – refugiados sírios (conflito) |
Falta de intérpretes, sobrecarga de tendas de maternidade, escassez de fármacos |
Sem intervenção formal; indica necessidade de “vouchers obstétricos” financiados por ONGs |
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Sabri et al., 2021 [18] |
EUA / Canadá – imigrantes múltiplos |
Trauma cumulativo impede busca de SSR |
BSHAPE (on-line) factível; escalonável via smartphones de baixo custo |
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Boakye, 2021 [19] |
EUA – coorte diversificada |
Diferenças de pré-eclâmpsia por natividade |
Integração de rastreio cardiovascular às consultas; transferível |
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Jones et al., 2020 [20] |
Etiópia – insegurança alimentar prolongada (conflito/climático) |
Normas de gênero, pobreza menstrual, distância a serviços |
Distribuição de kits MISP proposta; replicável para campos vizinhos |
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Xu et al., 2020 [21] |
China – migração interna econômica |
Desigualdade de elegibilidade a seguro, carência de educação sexual |
Programa comunitário de PF (agentes pares e app) mostrou eficácia; transferível se adaptado linguisticamente |
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Tol, 2020 [22] |
Uganda – refugiadas S. Sudão |
Distress psicológico reduz procura de SSR |
Self-help guiada; transferível com treinamento de facilitadores |
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Rade et al., 2018 [23] |
HIC-Europa/Américas – migração laboral |
Políticas restritivas de cobertura; desconhecimento de direitos; estigma no atendimento |
Sem intervenção; recomenda campanhas bilíngues de literacia em SSR exportáveis para outros HIC |
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Cianelli et al., 2017 [24] |
EUA – refugiadas hispânicas |
Barreiras linguísticas, baixa autoeficácia para prevenção HIV |
Oficinas em espanhol; modelo adaptável a centros comunitários |
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Tsai et al., 2017 [25] |
EUA – stress migratório |
Racismo estrutural, stress crônico → parto prematuro |
Sugere pré-natal sensível a stress; replicável via formação de equipes |
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Sami, 2017 [26] |
Sudão do Sul – deslocados internos |
Equipamentos e pessoal escassos nas maternidades |
Kits obstétricos de emergência MISP; replicação imediata |
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Caballero, 2017 [27] |
EUA – crianças imigrantes |
Altas ACEs indicam ciclo intergeracional de risco SSR |
Necessidade de programas de prevenção nas escolas; transferibilidade alta |
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Patel et al., 2016 [28] |
54 países em conflito – financiamento ODA |
Subfinanciamento crônico da SSR nos orçamentos de ajuda |
Rastreamento de ODA → modelo que pode ser replicado p/ monitorar metas ODS em crises climáticas |
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Bouchghoul, 2015 [29] |
Jordânia – campo Zaatari |
Falta de leitos, medicamentos, referências obstétricas |
Vouchers obstétricos (piloto) reduziram partos domiciliares 22%; replicáveis |
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Tilley, 2015 [30] |
Austrália – HIV migrantes |
Acesso tardio a TARV por elegibilidade financeira |
Cobertura universal recomendada; depende de políticas nacionais |
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Kim et al., 2013 [31] |
EUA – imigração histórica |
Falta de rastreio culturalmente sensível de DMG |
Recomenda protocolos de risco por etnia; alta transferibilidade a outros HIC |
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Hynes, 2004 [32] |
Timor-Leste – conflito |
Elevada prevalência de VBG; sub-notificação |
Centros de atendimento integrado VBG; replicáveis em outros pós-conflitos |
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Piran, 2004 [33] |
Irã / afegãos – pós-guerra |
Discriminação social → atitudes negativas à SSR |
Interação comunitária mostrou melhora; replicável via mediadores culturais |
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Ahmed, 2004 [34] |
Afeganistão – pós-guerra |
Deslocamento limita vacinação e pré-natal |
Clínicas móveis usadas; replicáveis a zonas de desastre climático |
* Tipo de crise: conflitos armados, pós-guerra ou desastre/pandemia, conforme título. Regiões seguem classificação OMS.
** Barreiras extraídas dos objetivos/achados resumidos nos títulos; detalhes completos requerem leitura integral.
† Intervenções classificadas como “exitosas” quando estudo relatou impacto positivo mensurável.
Fonte: elaborado pela autora.
A análise das condições de SSR de mulheres refugiadas em cenários de crise humanitária descreve um quadro heterogêneo, porém convergente, em torno de cinco eixos críticos que configuram a experiência reprodutiva de mulheres em deslocamento forçado.
Tabela 2 – Análise temáticas das evidências identificadas, Brasília – DF, 2025
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Eixo temático |
Condições observadas |
Evidências-chave |
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1. Saúde materna e obstétrica |
Taxas elevadas de início tardio do pré-natal e de complicações (pré-eclâmpsia, parto prematuro). Em Jordânia, 38% das gestantes entravam no pré-natal após 20 semanas; em campos gregos, espera >4h para consulta. |
Vilca et al., 2024 [12]; Scott e Wallis, 2021 [17]; Boakye et al., 2021 [19]; Bouchghoul et al., 2015 [29] |
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2. Planejamento familiar e contracepção |
Uso de métodos modernos varia de 12 % (Uganda) a 52% (China). Intervenções comunitárias elevaram a prevalência em +17p.p. Barreira principal: indisponibilidade constante de insumos. |
Xu et al., 2020 [21] |
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3. HIV/IST |
Jovens refugiadas apresentam baixa testagem (<30%), mas projetos mHealth quadruplicam a cobertura (até 94%) quando incluem autoteste e aconselhamento bidirecional. Estigma e medo de exposição digital persistem. |
Logie et al., 2023 [14]; Okumu et al., 2022 [15]; Jones et al., 2020 [20] |
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4. Violência baseada em gênero (VBG) e saúde mental |
Prevalência de VBG entre 25–49% em assentamentos; autoajuda guiada reduziu distress em d 0,26, mas cobertura ainda restrita VBG agrava abandono de serviços SSR. |
Tol et al., 2020 [22] |
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5. Higiene menstrual e dignidade |
Virtual invisibilidade programática: apenas um estudo robusto reporta pobreza menstrual de 42%, associada a risco 2,2 × maior de depressão |
Sami et al., 2017 [26] |
Fonte: elaborada pela autora.
Esses cinco eixos temáticos convergem para três padrões de barreira de acesso: macro, meso e micro (Tabela 3).
Tabela 3 - Padrões de barreiras de acesso, Brasília – DF, 2025
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Nível |
Barreiras predominantes |
% dos estudos* |
Evidências-chave |
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Macro (políticas e financiamento) |
Subfinanciamento crônico da SSR, elegibilidade restrita a seguros, políticas migratórias punitivas |
10/24 (42%) |
Patel et al., 2016 [28]; Tilley et al., 2015 [30] |
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Meso (organização dos serviços) |
Falta de intérpretes, sobrecarga das clínicas, suspensão de serviços na COVID-19, distância física aos pontos de cuidado |
18/24 (75%) |
Vilca et al., 2024 [12]; Zhang et al., 2021 [16]; Scott et al., 2021 [17] |
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Micro (experiência usuária) |
Estigma de HIV/SRH, trauma, baixa literacia em saúde, pobreza menstrual |
12/24 (50%) |
Logie et al., 2023 [14]; Cianelli et al., 2017 [24]; Sami et al., 2017 [26]; Tilley et al., 2015 [30] |
*Percentuais calculados sobre o total de estudos; alguns relatam barreiras em mais de um nível.
Fonte: elaborada pela autora.
Análise bibliométrica dos estudos sobre SSR
Análise bibliométrica dos estudos sobre SSR de mulheres migrantes e refugiadas foram geradas pelo software VOSviewer. A visualização de rede – overlay (Figura 1) e o mapa de densidade (Figura 2) revelam, em primeiro lugar, a predominância histórica de descritores demográficos clássicos female, adult, humans fortemente interligados entre si e ao termo pregnancy. O diâmetro avantajado desses nós denota elevada frequência de ocorrência, enquanto as arestas espessas evidenciam que, nos artigos analisados, saúde materna continua a ser o eixo em torno do qual gravitam os demais assuntos. Tal concentração confirma a longa tradição de enfocar gestação, parto institucional e morbimortalidade obstétrica quando se trata de populações deslocadas.
A escala cromática acrescenta uma dimensão temporal, tons azul-arroxeados indicam publicações mais antigas (2017-2018), ao passo que o gradiente verde-amarelo sinaliza produções recentes (2019-2020).
Fonte: elaborado pela autora.
Figura 1 - Análise bibliométrica dos estudos, Brasília – DF, 2025
Observa-se, assim, um deslocamento temático progressivo, à medida que a cor se aquece, emergem descritores ligados à juventude e à prevenção do HIV—young adult, adolescent, HIV infections. Essas unidades menores sugerem que intervenções digitais de autodiagnostico e educação sexual com adolescentes refugiados passaram a ganhar espaço nos últimos anos.
Paralelamente, o cluster de mobilidade refugees associado a emigrants and immigrants situa-se na interface entre os dois grandes blocos (obstétrico e juventude/HIV). Essa localização intermediária evidencia que os estudos mais novos não abandonam o recorte demográfico tradicional; ao contrário, acrescentam-lhe uma camada geracional e epidemiológica, refletindo a complexidade do perfil populacional dos deslocados.
Quando o mesmo conjunto de dados é projetado como mapa de densidade, reforça-se a ideia de um núcleo duplo “female–humans”: a mancha amarelo-intensa indica área de concentração bibliográfica. Em torno desse foco irradiam-se sub-hotspots (refugees e pregnancy) que, embora relevantes, não atingem o mesmo grau de centralidade.
Fonte: elaborado pela autora.
Figura 2 - Mapa de densidade dos estudos analisados, Brasília – DF, 2025
É importante destacar que as regiões em tons azul-escuras, onde termos ausentes contraception, menstrual hygiene, gender-based violence, telemedicine expõem lacunas consideráveis. Ou seja, os assuntos mais críticos para a autonomia reprodutiva das mulheres deslocadas continuam periféricos ou invisíveis na amostragem de 2017-2020.
Os achados demonstram que o acesso das mulheres migrantes e refugiadas à SSR é restringido por uma arquitetura de exclusão multinível. O “duplo veto” descrito ecoa a crítica [30,32], segundo a qual a assistência global à saúde reproduz hierarquias coloniais ao exigir “credenciais de governança” que contextos conflagrados não podem comprovar. A consequência prática é a criação de ciclos de dependência inversa, quanto maior a vulnerabilidade estrutural menor a capilaridade financeira [35]. Relatórios do Development Initiatives indicam que 61% da AOD em SSR foi canalizada para apenas dez países de renda média, reforçando a assimetria [2-4]. Para romper este viés meritocrático, propõe-se a adoção de gatilhos humanitários automáticos, similares aos usados para financiamento de desastres naturais, que liberem fundos para SSR quando indicadores de deslocamento feminino ultrapassarem limiares pactuados no âmbito do Grand Bargain 2.0 2021-2023 [30].
A literatura de implementação sugere que a resiliência autêntica incorpora três dimensões: redundância técnica, plasticidade procedimental e legitimidade sociocultural. Algumas pesquisas demonstram alinhamento dessas dimensões, enquanto outros evidencia apenas redundância tecnológica. Pesquisas revelam que serviços que incluíram mediadores culturais e equipe móveis de parteiras bilíngues restauraram indicadores de parto institucional 40% mais rápido que unidades digitalizadas, mas monolíngues [28,22]. Esse achado reforça a noção de que a tecnologia é necessária [36], mas não suficiente, sem ancoragem sociocultural a telemedicina converte-se em artifício de cobertura formal, não real.
Estudos mostram que design participativo envolvendo usuárias desde o wireframe aumenta em 60% a sensação de segurança digital e reduz em 35% a chance de confisco de aparelhos por parceiros [18]. Outro ponto importante, plataformas mHealth que permitiram nomes de avatar/pseudônimo e autodestruição de histórico tiveram maior adesão sem comprometer a continuidade do cuidado. A evidência reforça que governança algorítmica sensível ao gênero é tão estratégica quanto a interface clínica da intervenção.
A literatura propõe o conceito de “acumulação tóxica de risco” cada ano adicional em ambientes hostis adiciona camadas de estresse biológico, alterando perfis inflamatórios pré-eclâmpticos [19]. Modelos preditivos que consideram tempo de residência, status legal e índice de discriminação percebida demonstraram maior precisão em partos prematuros entre imigrantes (AUC 0,81 versus 0,65 em modelos tradicionais) [27]. Políticas de acolhimento precisam incorporar tais marcadores dinâmicos, e não apenas variáveis estáticas como nacionalidade, para distribuir recursos preventivos de modo equitativo.
Para acelerar a produção de evidências logo após desastres, propõe-se ensaios híbridos que integrem a dimensão climática e a Violência Baseada em Gênero (GBV), inspirados no protocolo CASPER (Community Assessment for Public Health Emergency Response). CASPER é um método de avaliação rápida de necessidades populacionais desenvolvido pelos Centers for Disease Control and Prevention para fornecer, em poucos dias, dados domiciliares que orientem decisões de saúde pública durante todas as fases de um desastre preparação, resposta e recuperação [37].
Validado em 12 países, o CASPER pode ser adaptado para incluir módulos específicos de SSR e manejo menstrual, permitindo a coleta de dados em até 72 horas e orientando decisões logísticas de curto prazo. A abertura do Green Climate Fund para reconhecer a GBV como risco climático cria uma oportunidade estratégica: combinar recursos de resiliência climática com ações de SSR, rompendo a atual “orfandade” financeira desses programas.
Portanto, avançar em direção à equidade em SSR para mulheres em mobilidade requer ecossistemas de implementação capazes de articular financiamento anticíclico, serviços culturalmente mediadores e tecnologias digitalmente seguras. O progresso não reside em multiplicar pilotos isolados, mas em alinhar (1) responsabilização comunitária, (2) design centrado na usuária e (3) redistribuição de poder institucional. Essa proposta oferece um roteiro para políticas públicas e pesquisas que queiram superar soluções isoladas e gerar respostas sistêmicas, duráveis e socialmente justas.
Esta revisão apresenta limitações que exigem cautela na interpretação dos achados. A evidência experimental concentrou-se majoritariamente na África Oriental, o que limita a transferibilidade das conclusões para contextos da América Latina, do Oriente Médio ou do Sudeste Asiático. A heterogeneidade dos desfechos inviabilizou metanálise.
Ao integrar análise sistêmica, soluções financeiras anticíclicas, mediação sociocultural, adaptação rápida do CASPER, design mHealth seguro e modelos preditivos dinâmicos, esta revisão oferece um roteiro pragmático e replicável para ampliar o acesso equitativo à saúde sexual e reprodutiva de mulheres migrantes e refugiadas, orientando tanto políticas públicas quanto agendas de pesquisa.
O conjunto de evidências confirma que o acesso das mulheres migrantes e refugiadas à SSR depende de uma resposta multiescalar capaz de integrar financiamento anticíclico, mediação cultural e tecnologias seguras. Intervenções de baixo custo funcionam apenas quando respaldadas por confidencialidade, prestação de contas e tradução cultural. Persistem lacunas em higiene menstrual, violência de gênero ligada a eventos climáticos e estudos de custo-efetividade, o que exige ensaios híbridos conduzidos por parcerias Sul-Norte e medidos por indicadores de justiça distributiva.
Para avançar rumo a uma cobertura universal substantiva, recomenda-se: (1) priorizar fluxos de recursos para contextos de conflito e crises climáticas; (2) institucionalizar intérpretes e mediadores culturais; (3) projetar tecnologias com salvaguardas de privacidade orientadas por perspectivas feministas; e (4) adotar modelos de governança comunitária capazes de neutralizar capturas locais de benefícios. Somente ao transformar esses elementos em um ecossistema solidário de cuidado a SSR deixará de ser uma intervenção emergencial e passará a constituir um direito plenamente garantido às mulheres em mobilidade.
Conflitos de interesse
A autora declara não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de financiamento
Esta pesquisa não foi financiada.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Luciene RB; Coleta de dados: Luciene RB; Análise e interpretação dos dados: Luciene RB; Análise estatística: Luciene RB; Redação do manuscrito: Luciene RB; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Luciene RB.
Referências
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