Enferm Bras. 2025;24(3):2375-2387
doi: 10.62827/eb.v24i3.4061

ARTIGO ORIGINAL

Impacto da educação continuada na administração de medicamentos: melhorias na prática da enfermagem

Rodrigo Pereira Castilho1, João Paulo Soares Fonseca1

1Centro Universitário UninCor (UNINCOR), Três Corações, MG, Brasil

Recebido em: 14 de Junho de 2025; Aceito em: 27 de Junho de 2025.

Correspondência: Rodrigo Pereira Castilho, rodrigopcastilhotcc@gmail.com

Como citar

Castilho RP, Fonseca JPS. Impacto da educação continuada na administração de medicamentos: melhorias na prática da enfermagem. Enferm Bras. 2025;24(3):2375-2387. doi:10.62827/eb.v24i3.4061

Resumo

Introdução: A educação continuada é fundamental para o aprimoramento da equipe de enfermagem, promovendo a segurança do paciente e a qualidade da assistência. Ela favorece a atualização profissional, a prática baseada em evidências e a redução de eventos adversos. Objetivo: Avaliou-se como a educação continuada influencia a administração de medicamentos pela equipe de enfermagem, identificando as melhorias nas práticas de cuidado e a segurança dos pacientes. Métodos: Trata-se de uma pesquisa intervencionista, com abordagem estruturada voltada à identificação e resolução de problemas no contexto da assistência de enfermagem. Os dados foram coletados por meio da análise de eventos adversos registrados por enfermeiros em um hospital filantrópico no sul de Minas Gerais, entre janeiro e dezembro de 2023. Participaram do estudo 8 enfermeiros e 48 técnicos de enfermagem, selecionados por sua atuação direta nos processos de administração de medicamentos, visando representar adequadamente as experiências e perspectivas desses profissionais. Resultados: Dos 74 profissionais, 81,08% (n = 60) eram técnicos de enfermagem e 18,92% (n = 14) enfermeiros. Após a intervenção educativa, houve aumento significativo no conhecimento sobre os “nove certos” da medicação. Questões como prescrição, identificação do paciente e registro foram amplamente reconhecidas. A ação educativa mostrou-se eficaz na promoção da segurança do paciente. Conclusão: A intervenção educativa contribuiu para ampliar o conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a administração segura de medicamentos. Os resultados evidenciam melhora nas respostas após a ação. Reforça-se a importância da educação continuada na promoção da segurança do paciente.

Palavras-chave: Educação Continuada em Enfermagem; Vias de Administração de Medicamentos; Segurança do Paciente; Erros de Medicação; Prática Profissional.

Abstract

Impact of continuing education on medication administration: improvements in nursing practice

Introduction: Continuing education is essential for improving nursing team performance, promoting patient safety and the quality of care. It supports professional development, evidence-based practice, and the reduction of adverse events. Objective: This study evaluated how continuing education influences medication administration by the nursing team, identifying improvements in care practices and patient safety. Methods: This is an interventional study with a structured approach aimed at identifying and solving problems in the context of nursing care. Data were collected through the analysis of adverse events reported by nurses at a philanthropic hospital in southern Minas Gerais, Brazil, between January and December 2023. The study included 8 nurses and 48 nursing technicians, selected for their direct involvement in medication administration processes, ensuring adequate representation of their experiences and perspectives. Results: Of the 74 professionals, 81.08% (n = 60) were nursing technicians and 18.92% (n = 14) were nurses. After the educational intervention, there was a significant increase in knowledge regarding the “nine rights” of medication administration. Issues such as prescription, patient identification, and documentation were widely recognized. The educational intervention proved effective in promoting patient safety. Conclusion: The educational intervention contributed to increasing the nursing professionals’ knowledge of safe medication administration. The results show improvement in responses after the intervention, reinforcing the importance of continuing education in promoting patient safety.

Keywords: Education; Drug Administration Routes; Patient Safety; Medication Errors; Professional Practice.

Resumen

Impacto de la educación continua en la administración de medicamentos: mejoras en la práctica de enfermería

Introducción: La educación continua es esencial para el desarrollo del equipo de enfermería, ya que promueve la seguridad del paciente y mejora la calidad de la atención. Contribuye a la actualización profesional, a la práctica basada en evidencias y a la reducción de eventos adversos. Objetivo: Evaluar cómo la educación continua influye en la administración de medicamentos por parte del equipo de enfermería, identificando mejoras en las prácticas asistenciales y en la seguridad del paciente. Métodos: Se trata de un estudio de intervención con un enfoque estructurado dirigido a la identificación y resolución de problemas en el contexto de la atención de enfermería. Los datos se recolectaron mediante el análisis de eventos adversos registrados por enfermeros en un hospital filantrópico del sur de Minas Gerais, Brasil, entre enero y diciembre de 2023. Participaron 8 enfermeros y 48 técnicos de enfermería, seleccionados por su actuación directa en los procesos de administración de medicamentos, garantizando la representación de sus experiencias y percepciones. Resultados: De los 74 profesionales, el 81,08 % (n = 60) eran técnicos de enfermería y el 18,92 % (n = 14) eran enfermeros. Tras la intervención educativa, se observó un aumento significativo en el conocimiento sobre los “nueve correctos” de la medicación. Aspectos como la prescripción, la identificación del paciente y el registro fueron ampliamente reconocidos. La acción educativa fue eficaz para promover la seguridad del paciente. Conclusión: La intervención educativa contribuyó al fortalecimiento del conocimiento de los profesionales de enfermería en cuanto a la administración segura de medicamentos. Los resultados mostraron mejoras tras la intervención, destacando la importancia de la educación continua en la promoción de la seguridad del paciente.

Palabras-clave: Educación Continua en Enfermería; Vías de Administración de Medicamentos; Seguridad del Paciente; Errores de Medicación; Práctica Profesional.

Introdução

A enfermagem é uma ciência voltada ao cuidado integral do ser humano, fundamentada em conhecimentos teóricos e práticos que orientam ações seguras e eficazes. A prática de enfermagem valoriza a saúde do paciente como um bem precioso, a ser protegido com responsabilidade e competência profissional [1].

Além da assistência direta, o enfermeiro exerce papel estratégico na coordenação das equipes de saúde, na supervisão das práticas assistenciais e na promoção da educação permanente. O compromisso com a atualização contínua favorece a tomada de decisões baseadas em evidências, contribuindo para a qualidade do cuidado e para a prevenção de falhas [2].

A educação continuada surge, nesse cenário, como ferramenta essencial para o fortalecimento das equipes de enfermagem. Ela colabora para a reorganização do trabalho, o aperfeiçoamento técnico e a redução de eventos adversos, ao promover uma prática crítica, reflexiva e atualizada [3,4].

Dentre as atividades realizadas pelos profissionais de enfermagem, a administração de medicamentos se destaca por sua complexidade e impacto direto na segurança do paciente. Essa prática envolve múltiplas etapas desde a prescrição até o registro exigindo domínio técnico e atenção constante. O enfermeiro tem a responsabilidade de planejar, executar e supervisionar a administração de medicamentos, atuando como agente central na prevenção de erros e na garantia da segurança terapêutica [5].

A questão que fundamentou este estudo foi: Como a educação continuada, aplicada pelo enfermeiro, contribui para a qualificação das práticas da equipe no processo de administração de medicamentos?

Métodos

Trata-se de uma pesquisa de natureza intervencionista, com abordagem estruturada voltada à identificação e resolução de problemas no contexto da assistência de enfermagem. Inicialmente, realizou-se uma análise diagnóstica institucional, devidamente autorizada pela instituição parceira. Os dados foram fornecidos pela coordenação de enfermagem e pelo setor de qualidade, obtidos mediante observação direta das práticas assistenciais e análise dos registros hospitalares, com o intuito de mapear os principais desafios enfrentados pela equipe de enfermagem no cotidiano do cuidado.

O estudo foi desenvolvido com base nos critérios consolidados para pesquisas intervencionistas não randomizadas, conforme recomendado pela TREND Statement [6], que orienta a descrição detalhada do contexto, dos participantes, das estratégias adotadas e das limitações, assegurando transparência, rigor metodológico e reprodutibilidade científica.

A investigação priorizou não apenas o reconhecimento das falhas assistenciais, mas também a proposição de soluções práticas e a avaliação dos resultados obtidos [7]. A coleta de dados ocorreu entre março e outubro de 2023, por meio da análise descritiva de eventos adversos registrados pelos enfermeiros da instituição. Esses registros permitiram identificar padrões de erro, subsidiando o planejamento de intervenções educativas específicas voltadas à segurança na administração de medicamentos.

Na segunda fase da pesquisa, foram desenvolvidas ações educativas direcionadas a oito enfermeiros e 48 técnicos de enfermagem atuantes nos setores clínicos, selecionados em função de sua interação direta com o processo de administração de medicamentos. Foram incluídos os profissionais em exercício ativo e lotados nos setores contemplados no momento da intervenção, sendo excluídos aqueles em férias ou afastados por motivos de saúde.

As atividades ocorreram em maio de 2025, conduzidas pelos autores do estudo, com ênfase nos setores com maior incidência de eventos adversos. As intervenções consistiram em orientações teórico-práticas sobre práticas seguras de administração de medicamentos, visando prevenir falhas e promover a segurança do paciente.

Para mensurar o impacto da intervenção, foram aplicados dois questionários estruturados, compostos por perguntas fechadas sobre a administração segura de medicamentos, com ênfase nos “nove certos”. O primeiro instrumento foi aplicado antes da ação educativa, e o segundo, contendo questões diferentes, após a intervenção, para avaliar mudanças no conhecimento dos participantes.

Os questionários foram disponibilizados digitalmente por meio da plataforma Google Forms, o que garantiu acesso facilitado, anonimato e ampla adesão dos profissionais. Os dados obtidos foram organizados em planilhas eletrônicas e analisados por estatística descritiva simples, sendo apresentados em frequências absolutas e relativas (percentuais).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UninCor, sob parecer nº 7.406.803 e CAAE nº 85571524.2.0000.0295. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo respeitados os princípios éticos estabelecidos pelas Resoluções nº 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, assegurando anonimato, sigilo e privacidade das informações.

Resultados

Participaram da pesquisa 74 profissionais de enfermagem diretamente envolvidos na administração de medicamentos, sendo 60 técnicos de enfermagem (81,1%) e 14 enfermeiros (18,9%). Em relação ao gênero, 58 (78,4%) eram do sexo feminino e 16 (21,6%) do sexo masculino. A composição sociodemográfica dos participantes reflete o perfil predominante da força de trabalho da enfermagem no Brasil.

A pesquisa foi realizada em duas fases: antes e após a implementação de um programa de educação continuada sobre os “nove certos” da administração de medicamentos. A intervenção consistiu em orientações teóricas e práticas, conduzidas nos setores onde ocorre a administração direta de medicamentos.

Após a intervenção educativa, observou-se uma melhora expressiva na percepção dos profissionais quanto à sua aptidão para realizar uma administração medicamentosa segura.

Tabela 1 - Práticas de administração segura de medicamentos pela equipe de enfermagem, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil, 2025

Resposta

n

%

Conhece as etapas da administração de medicamentos

51

68.5

Não conhece as etapas da administração de medicamentos

23

31.5

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

O primeiro conjunto de dados revela que 68,5% dos profissionais afirmaram conhecer as etapas da administração de medicamentos, enquanto 31,5% indicaram desconhecimento sobre o processo.

Tabela 2 - Conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre os “nove certos” da administração de medicamentos (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil, 2025

Resposta

n

%

Conhecimento adequado sobre os nove certos da administração de medicamentos

66

89.2

Respostas incorretas

8

10.8

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

No que se refere ao conhecimento dos nove certos, observou-se que 89,2% dos profissionais demonstraram domínio adequado, ao passo que 10,8% apresentaram respostas incorretas.

Tabela 3 - Conhecimento sobre os cuidados na administração da Vitamina K (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil, 2025

Resposta

n

%

Conhece corretamente

45

60,8%

Não conhece adequadamente

29

39,2%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Em relação aos cuidados específicos com a administração da Vitamina K, os resultados indicam que 60,8% responderam corretamente, enquanto 39,2% evidenciaram lacunas no conhecimento.

Tabela 4 – Percepção sobre a importância do conhecimento dos nove certos da administração de medicamentos, (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Reconhecimento da importância

n

%

Reconhece

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

A totalidade dos participantes (100%) reconheceu corretamente a importância do domínio dos nove certos da administração de medicamentos, demonstrando compreensão unânime sobre o tema.

Após a realização da intervenção educativa, foi aplicado um segundo questionário com o objetivo de avaliar o grau de compreensão e a assimilação do conteúdo repassado aos profissionais. Essa etapa permitiu verificar a efetividade da ação educativa na ampliação do conhecimento teórico-prático relacionado à administração segura de medicamentos, reforçando a relevância de estratégias contínuas de capacitação profissional.

Tabela 5 - Conhecimento sobre o que deve ser registrado após administração de medicamentos (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Registro correto

n

%

Sabe o que deve ser registrado

68

91,9%

Não sabe ou registra incorretamente

6

8,1%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Quanto à necessidade de registrar o horário e a resposta do paciente à medicação administrada, 86,5% responderam de forma adequada, enquanto 13,5% apresentaram respostas equivocadas.

Tabela 6 - Adesão dos profissionais ao protocolo dos ‘nove certos’ (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Seguem o protocolo

n

%

Sim

69

93,2%

Não

5

6,8%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Os dados apontam que 93,2% dos profissionais relataram seguir corretamente os protocolos dos nove certos na prática assistencial, enquanto 6,8% demonstraram falhas nesse aspecto.

Tabela 7 - Reconhecimento da opção ‘profissional certo’ como não ser um dos nove certos da medicação (N = 74), Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Não considera ‘profissional certo’ como um dos itens

68

91,9%

Resposta incorreta

6

8,1%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Com relação ao item “profissional certo”, 91,9% identificaram corretamente que ele não integra os nove certos da administração de medicamentos, enquanto 8,1% apresentaram entendimento equivocado.

Tabela 8 – Abordou sobre a importância de orientar o paciente e seu acompanhante sobre a medicação a ser administrada, n 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Realizam as orientações

n

%

Sim

68

91,9%

Não

6

8,1%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Observa-se que 91,9% dos profissionais afirmaram orientar o paciente ou acompanhante sobre a medicação administrada. Entretanto, 8,1% ainda não realizam essa prática fundamental.

Tabela 9 – Conduta adotada pelo profissional em caso de dúvida quanto à administração de uma medicação, n 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Adotam conduta correta

N

%

Sim

73

98,6%

Não

1

1,4%

Total

74

100%

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Os dados demonstram que 98,6% dos profissionais adotariam a conduta correta diante de dúvidas relacionadas à administração de medicamentos, enquanto 1,4% apresentaram respostas inadequadas.

Tabela 10 - Percepção sobre a importância da administração da dose correta, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Resposta correta

71

95.9

Resposta incorreta

3

4.1

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

A respeito da importância da administração da dose correta, verificou-se que 95,9% reconheceram esse princípio, enquanto 4,1% apresentaram respostas equivocadas.

Tabela 11 - Percepção sobre a importância de respeitar os horários de administração das medicações, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Resposta correta

73

98.6

Resposta incorreta

1

1.4

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Os resultados revelam que 98,6% dos profissionais compreendem a necessidade de respeitar os horários de administração das medicações, enquanto 1,4% apresentaram falhas de entendimento.

Tabela 12 - Percepção sobre a importância da avaliação da resposta ao medicamento, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Resposta correta

70

94.6

Resposta incorreta

4

5.4

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

No tocante à avaliação da resposta do paciente ao medicamento administrado, 94,6% responderam corretamente, enquanto 5,4% demonstraram desconhecimento ou falhas.

Tabela 13 - Compreensão sobre a definição dos nove certos da administração de medicamentos, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Resposta correta

73

98.6

Resposta incorreta

1

1.4

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Sobre a definição dos nove certos da administração de medicamentos, observou-se que 98,6% compreenderam corretamente o conceito, enquanto 1,4% apresentaram respostas incorretas.

Tabela 14 - Garantir a administração do medicamento no paciente certo, n = 74, Três Corações, Minas Gerais, Brasil

Resposta

n

%

Resposta correta

72

97.3

Resposta incorreta

2

2.7

Total

74

100.0

Fonte: Autores da pesquisa, 2025.

Por fim, os dados indicam que 97,3% dos profissionais sabem como garantir a administração do medicamento no paciente correto, enquanto 2,7% apresentaram respostas inadequadas.

Discussão

A aplicação da educação continuada à equipe de enfermagem resultou em transformações concretas, evidenciadas pelo aumento do conhecimento técnico, pela ampliação da compreensão sobre os protocolos de segurança e pela melhoria nas práticas de administração de medicamentos. Observou-se que os profissionais passaram a adotar condutas mais seguras e alinhadas às diretrizes institucionais, o que reforça o potencial da educação continuada como ferramenta de qualificação do cuidado e de fortalecimento da segurança do paciente.

A literatura destaca que o conhecimento técnico-científico, aliado à prática organizada e orientada por protocolos de segurança, é essencial para minimizar riscos relacionados à administração de medicamentos [12,24]. Neste estudo, identificou-se avanço no domínio desses protocolos, especialmente os nove certos, o que está em conformidade com diretrizes nacionais e internacionais que defendem a adoção rigorosa dessas medidas na rotina da enfermagem [12,15].

Contudo, persistem fragilidades pontuais, principalmente no conhecimento de temas específicos como o manejo de medicamentos críticos, caso da Vitamina K, situação que também é observada em outras instituições e reforça a necessidade de capacitações direcionadas às demandas práticas do ambiente hospitalar [13,18].

O correto registro das ações de enfermagem, em especial o horário de administração e a resposta do paciente, representa uma medida essencial para garantir a continuidade do cuidado e a segurança do paciente [15,22]. Embora o estudo tenha demonstrado avanços nesse aspecto, as falhas ainda presentes apontam para a necessidade de intensificação das ações educativas e da supervisão contínua.

A aplicação dos nove certos e a identificação correta do paciente são práticas fundamentais para a redução de eventos adversos [14,24]. A intervenção realizada demonstrou impacto positivo nesse sentido, evidenciando que a educação continuada contribui para fortalecer a cultura de segurança institucional [16,23].

Além disso, a literatura reforça que a comunicação efetiva com o paciente e o acompanhante é um dos pilares para a adesão ao tratamento e para a prevenção de erros, sendo esse um aspecto observado de forma positiva após a intervenção [18].

A conduta adotada pelos profissionais em situações de dúvida, priorizando o esclarecimento junto à equipe, também reflete o fortalecimento da cultura de segurança e está alinhada às boas práticas preconizadas [19].

Outros elementos fundamentais, como a administração da dose correta, o cumprimento dos horários prescritos e a avaliação da resposta do paciente, também apresentaram avanços após a intervenção, em conformidade com as recomendações técnicas para a prática segura da administração de medicamentos [20-22].

O estudo ainda demonstrou evolução no entendimento dos profissionais quanto à definição dos nove certos e às condutas necessárias para garantir que o medicamento seja administrado ao paciente correto, aspecto diretamente relacionado à segurança assistencial [23,24].

Apesar dos avanços evidenciados, este estudo apresenta limitações, como o número restrito de participantes e a realização em uma única instituição, fatores que podem limitar a generalização dos dados. Além disso, as falhas pontuais observadas indicam que ações educativas isoladas não são suficientes para eliminar todas as lacunas no conhecimento e nas práticas assistenciais. Dessa forma, reforça-se a necessidade de que os programas de educação continuada sejam permanentes, sistemáticos e adaptados às demandas específicas de cada equipe, conforme já preconizado em estudos anteriores [2-4,13]. Ainda assim, esta pesquisa contribui para o fortalecimento das práticas seguras na administração de medicamentos e evidencia o papel do enfermeiro como gestor do conhecimento, facilitador da aprendizagem e agente de transformação nos serviços de saúde.

Conclusão

O aprimoramento das práticas de administração de medicamentos é um desafio permanente para os serviços de saúde, especialmente em contextos onde as falhas assistenciais podem comprometer diretamente a segurança do paciente. Este estudo evidencia que a educação continuada aplicada à equipe de enfermagem representa uma estratégia efetiva para promover mudanças concretas, ao fortalecer o conhecimento técnico-científico, estimular a adoção de protocolos de segurança e qualificar a tomada de decisão no cuidado medicamentoso.

Contudo, os resultados também revelam que o domínio dos protocolos e a consolidação de condutas seguras não ocorrem de forma automática ou isolada, mas exigem investimentos contínuos em formação, acompanhamento sistemático das práticas e ambientes institucionais que favoreçam o aprendizado, a reflexão e o protagonismo da equipe de enfermagem.

Faz-se necessário reconhecer o papel estratégico do enfermeiro como articulador do conhecimento e agente multiplicador de boas práticas, capaz de mobilizar a equipe em torno de um cuidado seguro e baseado em evidências. Além disso, o fortalecimento da cultura de segurança institucional passa pelo compromisso das organizações em assegurar acesso permanente à informação, à educação e à supervisão qualificada, elementos que se mostram determinantes para a redução de riscos e a melhoria dos desfechos clínicos.

investir em educação continuada na enfermagem não se limita a qualificar o conhecimento técnico, mas configura-se como uma política institucional essencial à promoção da segurança do paciente, à prevenção de erros e ao aprimoramento permanente da qualidade na assistência em saúde.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.

Fontes de financiamento

Financiado por parte dos autores.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Castilho RP, Fonseca JPS; Coleta de dados: Castilho RP; Análise e interpretação dos dados: Castilho RP, Fonseca JPS; Análise estatística: Castilho RP, Fonseca JPS; Redação do manuscrito: Castilho RP, Fonseca JPS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Castilho RP, Fonseca JPS.

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